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CURVATURA DA TERRA

Terra: formação geoide, muito próxima de uma esfera. SOBRE A CURVATURA DA TERRA Vejam nestes links que ajudam: https://www....

20 dezembro 2019

PAPEL - FORMATO TÉCNICO

TAMANHOS DE PAPEL - NORMAS TÉCNICAS

Os tamanhos de papel se baseiam em sistemas reconhecidos oficialmente por convenções. Atualmente há dois principais sistemas em vigor: o sistema internacional ISO 216, adotado na maioria dos países, e os formatos adotados nos Estados Unidos e Canadá (como o letter).


Tamanhos de papel das séries A, B e C, da norma ISO 216 (em milímetros).

A tolerância especificada pela norma é de:

±1,5 mm para dimensões até 150 mm,
±2 mm para medidas de 150 a 600 mm, e
±3 mm para dimensões acima de 600 mm.


Tamanhos de papel padrão nos EUA e Canadá.


Adoção do padrão ISO A4 (azul) vs. sistema Letter norte-americano (vermelho).

Padrão ISO 216

Série A do padrão ISO 126


Série A do padrão ISO 216.

O padrão internacional para tamanho de papéis ISO 216 é baseado no padrão alemão DIN 476. Partindo do sistema métrico, o formato-base é uma folha de papel medindo 1 m² de área (A0). O grande trunfo é a proporção entre os lados do papel, a mesma em todos os tamanhos do padrão, aproximadamente igual a 1 / √2 (raiz quadrada de 2, igual a 1,4142…), que tem a propriedade de se manter quando a folha é cortada pela metade ou dobrada. Sucessivos cortes definem a série A de tamanhos A1, A2, A3, A4…, cujas medidas são arredondadas na ordem dos milímetros. Manter a mesma proporção entre diferentes tamanhos, propriedade inexistente nos formatos tradicionais de papel, facilita a ampliação e redução de um tamanho para o outro e a confecção de folhetos e brochuras com duas páginas em cada folha, na qual o tamanho do papel deve ser, na série, de uma ordem acima do tamanho da página, p.ex., folhas A3 são dobradas para fazer brochuras A4.

No decorrer do século 20, o padrão foi adotado em todos os países exceto EUA e Canadá, países que também são os únicos a ainda não adotarem inteiramente o sistema métrico. No México, Colômbia e Filipinas, apesar do padrão ISO ter sido oficialmente adotado, o formato US Letter é ainda de uso comum.

As vantagens de basear o formato de papel na razão 1 / √2 já havia sido notado em 1768 pelo cientista alemão Georg Christoph Lichtenberg (em uma carta para Johann Beckmann). No começo do século XX, Walter Porstmann fez da idéia de Lichtenberg um sistema de fato para diferentes tamanhos de papel, que foi introduzido como padrão DIN 476 em 1922, substituindo uma vasta variedade de outros formatos.

O padrão DIN 476 espalhou-se rápido para outros países. Antes da deflagração da Segunda Guerra Mundial ele foi adotado pelas seguintes nações:

Bélgica (1924); Países Baixos (1925); Noruega (1926); Suíça (1929); Suécia (1930); União Soviética (1934); Hungria (1938); Itália (1939).

Durante a guerra, foi adotado pelo Uruguai (1942), Argentina (1943) e Brasil (1943), e após o armistício, continuou a se difundir para:

Espanha (1947); Áustria (1948); Romênia (1949); Japão (1951); Dinamarca (1953); Checoslováquia (1953); Israel (1954); Portugal (1954); Iugoslávia (1956); Índia (1957); Polônia (1957); Reino Unido (1959); Venezuela (1962); Nova Zelândia (1963); Islândia (1964); México (1965); África do Sul (1966); França (1967); Peru (1967); Turquia (1967); Chile (1968); Grécia (1970); Zimbábwe (1970); Singapura (1970); Bangladesh (1972); Tailândia (1973); Barbados (1973); Austrália (1974); Equador (1974); Colômbia (1975); Kuwait (1975).

Em 1975, tantos países usavam o sistema alemão que ele foi estabelecido como padrão ISO, e também como o formato de documentação oficial das Nações Unidas. Em 1977, o A4 era o formato padrão de cartas em 88 de 148 países, e hoje apenas os EUA e o Canadá não adotaram o sistema.

Por terem todos a mesma proporção, o padrão ISO 216 facilita o redimensionamento de documentos entre seus tamanhos, prevenindo perda de imagem. Assim, uma página A4 pode ser ampliada para A3 retendo as mesmas proporções do documento original. Uma opção comum em fotocopiadoras é a amplicação ou redução de A4 para A3 e vice-versa, aplicando um redimensionamento de 141% (√2) ou 71% [1 / (1/√2)], na altura e largura do documento. A tabela a seguir apresenta uma relação de fatores entre todos os tamanhos de cada série.


Fatores de redimensionamento entre tamanhos de cada série (A, B ou C, substituindo o x).

Séries B e C do padrão ISO 126

Para aplicações onde a série A não oferece um tamanho adequado, o padrão também define a série B, menos comum, na qual as medidas de cada elemento são uma média geométrica entre dois tamanhos seguidos de elementos da séria A, o que mantém a mesma proporção de 1 / √2. Menos comum em escritórios, a série B é usada em situações específicas, como cartazes, livros (B5, p.ex.), envelopes, cartas de baralho e documentos padronizados, como passaportes e cartões de identificação (B7).


Fatores de redimensionamento entre as séries A, B e C.


Série B do padrão ISO 216.


Comparação das séries A, B e C.

A série C é um tamanho médio entre as duas primeiras: as medidas de cada elemento da série são a média geométrica entre as medidas dos elementos da séria A e B de mesmo número, p.ex., a largura e altura de uma folha C4 é a média geométrica das alturas e larguras das folhas A4 e B4. Ou seja, a folha C4 é ligeiramente maior que uma A4 e ligeiramente menor que uma B4. Um uso prático disso é que um envelope C4 acomoda uma folha A4 sem dobrar, que dobrada uma vez cabe num envelope C5 e dobrada duas vezes, num C6. O uso da série C para envelopes foi definido pela norma ISO 269, que também especifica os tamanhos mistos C7/C6 (81 x 162 mm) e C6/C5 (114 x 229 mm), para acomodar papéis A5 e A4 com duas dobras (um terço do tamanho).

Outros formatos

Tamanhos de papel estadunidenses

Os atuais padrões de papel nos EUA, definidos pelo ANSI, derivam dos formatos tradicionais Letter, Legal e Tabloide. As origens da dimensão do Letter (216 x 279 mm, ou 8,5 x 11 polegadas) estão perdidas na tradição e não são documentadas.

Tamanhos de papel ANSI

Em 1995, o American National Standards Institute adotou a norma ANSI/ASME Y14.1 que define uma série regular de tamanhos de papel com base no tamanho Letter de 8.5 × 11 polegadas, designado ANSI A. A série também inclui o tamanho Tabloide como ANSI B. As definições são parecidas com a norma ISO no sentido de que o corte pela metade de cada tamanho gera duas folhas do próximo tamanho. Entretanto, a proporção arbitrária acarreta que a série tenha dois formatos que se alternam a cada divisão.


Tamanhos de papel da norma ANSI.

Como cada tamanho é comparável aos da série A, documentos podem ser cuidadosamente preparados para caber tanto nas folhas ANSI quanto nas ISO sem deformações.


Similaridade.

Formatos tradicionais baseados em unidades anglo-saxãs

Tradicionalmente, diferentes tamanhos eram estabelecidos para grandes folhas de papel, e formatos derivados eram definidos de acordo com o número de vezes que elas foram cortadas. Assim, uma folha Royal inteira mede 25 x 20 polegadas, e uma Royal Octavo, tinha essa medida cortada três vezes, para fazer oito folhas de 10 x 6¼ polegadas.

Unidades anglo-saxãs foram usadas no Reino Unido e em seus territórios. Alguns formatos são os que seguem:


* Os tamanhos marcados com asterisco são utilizados nos EUA.


Suas divisões usuais e suas abreviações são as seguintes:



Muitos desses tamanhos são utilizados somente na composição de livros.

Espessura e densidade do papel

Onde vigora o padrão ISO, a espessura e densidade de um papel é expressa em gramas por metro quadrado (g/m²), unidade batizada de gramatura e padronizada na norma ISO 536. Gramaturas comuns no dia-a-dia são 75g/m² e 90g/m².




Fontes de pesquisa: Wikipedia e normas correlatas.


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08 outubro 2019

VIVALDI – WINTER (Four Seasons) ORGAN

Organ of Basílica de Santa María, Elche, Spain - JONATHAN SCOTT




Jonathan Scott plays his organ arrangement of Winter (L'Inverno) from Antonio Vivaldi's "The Four Seasons" on the organ of Basilica de Santa Maria, Elche Spain. 

The Organ was built by Gerhard Grenzing in 2006

The score of this arrangement is available here: scott brothers duo

The accompanying words are from The Four Seasons sonnets:

THE FOUR SEASONS SONNETS

Concerto No. 4 in F minor, Op. 8 No. 4, RV 297, L’Inverno (“Winter”)

1.
To tremble from cold in the frozen snow,
in the severe blowing of a horrid wind;
To run, stamping one's feet all the time,
our teeth chattering in the extreme cold;

2.
To pass peaceful contented days before the fire
as the rain pours down outside.

3.
To walk on the ice slowly and cautiously,
for fear of tripping and falling.
Turn suddenly, slip, fall to the ground.
Then run hard across the ice
until it cracks and breaks up;
We feel Sirocco, Boreas and all the winds course through
the home despite the locked and bolted doors.
This is winter, but nonetheless it brings its own delights!

Film and sound by Tom Scott

For more information about Jonathan Scott, please visit:


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06 outubro 2019

O SOL NO CÉU DOS PLANETAS

O Sol do ponto de vista de cada planeta do Sistema Solar


Mercúrio: o planeta fica a 58 milhões de quilômetros do sol, ou 39% da distância da Terra do Sol. Em Mercúrio, o Sol surge, aproximadamente, três vezes maior do que na Terra.


Vênus: o Sol quase não apareceria em Vênus por causa das densas nuvens carregadas de ácido sulfúrico. O astro fica a 107,8 milhões de quilômetros do planeta - 72% da distância da Terra do Sol.


Terra: estamos a 149,6 milhões de quilômetros do Sol. A esta distância, o Sol cobre uma área do céu de cerca de 0,5 grau. A Lua cobre a mesma área. Isto significa que quando a Lua passa entre o Sol e o nosso planeta, somos presenteados com o eclipse solar.


Marte: o Sol no empoeirado Planeta Vermelho está a 228,5 milhões de quilômetros e se apresenta menor do que na Terra. 


Júpiter: o Sol visto de Europa, uma das luas de Júpiter. Este planeta fica a 779 milhões de quilômetros da estrela, ou cerca de 5,2 vezes mais longe do que a distância da Terra do Sol. Aqui vemos Júpiter prestes a eclipsar um Sol cinco vezes menor do que o que vemos da Terra. A luz solar que passa através da densa atmosfera do planeta o ilumina na forma de um anel de luz vermelha.


Saturno: aqui o Sol está a, aproximadamente, 1,4 bilhão de quilômetros de Saturno, ou seja, 9,5 vezes mais longe do que a distância da Terra do sol. Em Saturno, cristais de água e gases, incluindo amônia, refratam a luz do Sol, criando belos efeitos ópticos, como halos e Sol ilusório. Embora a luz solar seja 100 vezes mais fraca em Saturno do que na Terra, ele ainda é muito brilhante por lá e um óculos seria muito bem-vindo.


Urano: O Sol visto de Ariel, uma das luas de Urano. O planeta fica a 2,8 bilhões de quilômetros do Sol, ou cerca de 19 vezes mais longe do que estamos do astro.


Netuno: O Sol visto de Tritão, uma das luas de Netuno. Este gigante gasoso fica a 4,5 bilhões de quilômetros do Sol. Ou seja, 30 vezes mais longe do que a distância da Terra do Sol. Nuvens de poeira e gás expelidos por gêiseres de Tritão obscurecem parcialmente um pequeno Sol, que é apenas um ponto no céu, 30 vezes menor do que visto da Terra.


Plutão: o Sol fica a uma distância absurda de 5,9 bilhões de quilômetros, ou seja, 40 vezes a distância da Terra em relação à estrela. A partir daqui, a luz do Sol é 1.600 vezes mais fraca do que na Terra. Ainda assim, é 250 vezes mais brilhante que uma Lua cheia aqui na Terra - brilhante o suficiente para ofuscar todos os outros objetos no céu e também difícil de olhar diretamente.

Segue tabela de distâncias dos planetas ao Sol




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01 setembro 2019

30 agosto 2019

1º ANO DO ÍCONE DO PORTAL FURNARI

30 de agosto de 2018
PRIMEIRO ANO DA CRIAÇÃO DO ÍCONE DO PORTAL FURNARI

Inspirado no Brasão da Família Furnari (Heráldica).

Visualização do ícone do PORTAL FURNARI.

Ícone do Portal Furnari.

"FURNARI" - Stemma di famiglia - Araldica.

Veja também a postagem: FURNARI.




25 maio 2019

KARPOV & KASPAROV 1985



O Campeonato Mundial de Xadrez de 1985 foi a 31ª edição da competição sendo disputada entre o campeão Anatoly Karpov e novamente o desafiante Garry Kasparov. A disputa foi realizada entre 3 de setembro e 9 de novembro em Moscou num match de 24 partidas no qual Kasparov consagrou-se o décimo terceiro campeão mundial.

Karpov & Kasparov - DOCUMENTÁRIO - Aprox. 35 minutos.

1985 WORLD CHESS TITLE MATCH.

ANATOLY KARPOV & GARRY KASPAROV

Em 9 de novembro de 1985, um mundo dividido assistiu ao fim de uma exaustiva série de partidas pelo título mundial de xadrez. Aos 22 anos, Garry Kasparov se tornava, naquele dia, o mais jovem campeão da modalidade em todos os tempos. O prodígio havia derrotado Anatoli Karpov, que detinha a coroa desde 1975. Ambos tinham nascido na hoje extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS. Entretanto, naqueles tensos anos 80, eles representavam interesses bastante diferentes. Karpov, membro do Partido Comunista, era o preferido dos burocratas de Moscou, enquanto o desafiante Kasparov, anticomunista e crítico do sistema, era encarado quase como um dissidente do regime. Sua vitória foi uma metáfora do fim do comunismo e um prenúncio do declínio da União Soviética, que alcançaria seu desfecho em 1992, com a desintegração do país.

No plano internacional, o planeta vivia a chamada Guerra Fria, que colocava de um lado os Estados Unidos e seus aliados do Ocidente e, do outro, os soviéticos e seus parceiros comunistas. Para compreender o significado do duelo entre Karpov e Kasparov, que durou mais de um ano, é preciso voltar no tempo e perceber a importância do xadrez nos tempos da Guerra Fria. Desde o fim da década de 1920, o regime soviético, por ordem do ditador Josef StAlin, resolveu tratar esse esporte como assunto de Estado. O objetivo era usar o xadrez como instrumento de propaganda política e tentar provar a superioridade intelectual dos comunistas frente aos capitalistas.

“O xadrez sempre foi um simulacro dos confrontos políticos e militares, com todas as suas jogadas de abertura e xeques-mates”, escreveu o jornalista Daniel Johnson, na revista britânica Prospect. “O jogo funcionou como uma megametáfora para aquela guerra psicológica. Os russos podem ter ficado para trás em termos de tecnologia militar ou competição econômica, mas nos tabuleiros de xadrez eles reinaram supremos”, afirma. Desde o fim dos anos 30, todos os campeões mundiais (Alexander Alekhine, Mikhail Botvinnik, Tigran Petrosian, Boris Spassky) haviam saído da União Soviética. A exceção foi o americano Bob Fischer, que levou o troféu para o Ocidente em 1972, derrotando Spassky. Foi a primeira vez que um ocidental ousou desafiar e vencer um campeão soviético.

ÚLTIMA DAS 24 PARTIDAS DO MATCH DE 1985 ENTRE KARPOV E KASPAROV QUE DECIDIU O TÍTULO MUNDIAL DE XADREZ (DO EXCELENTE CANAL XADREZ BRASIL DE RAFAEL LEITE).

SALA DAS COLUNAS

Pelas regras da Federação Internacional de Xadrez (Fide, na sigla em francês), o campeão precisava defender o título a cada três anos. O desafiante era definido no Torneio dos Candidatos, uma exaustiva maratona trienal em que enxadristas de todo o planeta se enfrentavam. Karpov venceu a competição e se credenciou para a disputa do título de 1975. Mas, por discordar das regras da disputa, Fischer recusou-se a colocar seu troféu em jogo. Assim, o soviético acabou sendo sagrado campeão.

Três anos depois, Karpov enfrentou o desertor soviético Victor Korchnoi, que tinha se naturalizado suíço. A disputa ocorreu em Baguio City, nas Filipinas – o desafiante não poderia entrar na União Soviética sem correr o risco de ser detido. Karpov ganhou por 6 a 5, com 21 empates. Alguns anos depois da final, Korchnoi declarou que perdera a disputa, mas salvara a própria vida. Era uma alusão aos rumores de que, caso tivesse vencido, os soviéticos teriam forjado um acidente para matá-lo. A disputa pelo campeonato de 1981 opôs, mais uma vez, Karpov e Korchnoi. Desta vez, o desafiante não resistiu ao bom jogo do campeão e perdeu por 6 a 1.

A história dos combates entre Karpov e Kasparov teve início na luta pelo título de melhor enxadrista de 1984. “Kasparov era uma estrela ascendente. Havia derrotado grandes jogadores para chegar à final”, afirma o enxadrista Luiz Loureiro, cronista da Federação Paulista de Xadrez. “Karpov, por sua vez, era considerado um herói nacional por causa das vitórias contra Korchnoi. Ele havia sido condecorado com uma distinção emérita por ter defendido a honra do país contra um dissidente.”

A disputa começou em setembro e teve como palco a célebre Sala das Colunas, em Moscou (local em que os líderes soviéticos, desde Lênin, haviam sido velados após a morte). Assim como no embate entre Karpov e Korchnoi, venceria quem chegasse primeiro a seis vitórias, sem que houvesse um número limitado de partidas.

O confronto começou acirrado, com empate nas duas primeiras partidas, mas logo Karpov abriu uma ampla vantagem. Em nove jogos, fez 4 a 0 e deu a impressão de que venceria com facilidade. Seguiram-se, então, 17 empates até Karpov levar mais uma partida e ficar a uma vitória do título consagrador. Mas não foi o que aconteceu. Depois de três empates, Kasparov registrou sua primeira vitória e resistiu bravamente a mais 14 jogos que terminaram sem vencedor.

Àquela altura, com 45 partidas jogadas, o confronto estava perdendo interesse e tinha virado uma dor de cabeça para seus organizadores. A Federação Soviética de Xadrez não esperava uma disputa tão longa, muito menos arcar com o custo do aluguel da suntuosa Sala das Colunas. Após a partida 47 (empate, assim como a 46), realizada em janeiro de 1985, quatro meses depois de iniciado o confronto, a final foi deslocada para o Hotel Sport, em Moscou. A mudança de ares beneficiou Kasparov, que ganhou duas partidas consecutivas e encostou no placar (3 a 5). Como Karpov era o queridinho do regime, a reação do desafiante acendeu a luz vermelha. “A impressão que se teve é que Kasparov, muito mais jovem e atlético do que Karpov, poderia inverter o jogo”, conta Luiz Loureiro.

Em 13 de fevereiro de 1985, o presidente da Fide, o russo Florêncio Campomanes, amigo de Karpov e defensor do regime comunista, decidiu suspender a disputa, alegando que os jogadores estavam exaustos e que seria improvável um dos dois conseguir a sexta vitória. Ficou acertado que uma nova final seria disputada dentro de seis meses. O tiro acabou saindo pela culatra. “Do ponto de vista esportivo, Karpov foi o maior prejudicado, pois tinha dado aulas de graça para seu adversário”, diz Loureiro. “Kasparov ganhara uma enorme experiência, que o transformou num jogador mais forte, equilibrado e completo.”

KARPOV & KASPAROV 1985 CHESS MATCH - 24th GAME ENDING.

NOVO MUNDO

Enquanto o embate Karpov-Kasparov estava suspenso, o pano de fundo político havia mudado. Em 11 de março de 1985, chegou ao poder Mikhail Gorbachev, o novo secretário-geral do Partido Comunista Soviético. Autor dos programas de distensão do regime conhecidos como Perestroika (“reestruturação”) e Glasnost (“abertura” ou “transparência”), ele viria a ser o principal responsável pelo desmantelamento da União Soviética. Ele substituía Kostantin Chernenko, que morrera 13 meses depois de ser escolhido pelo partido.

Antes de Chernenko, o país havia sido governado por Yuri Andropov, ex-chefe da KGB. Ele também teve uma passagem efêmera pelo Kremlin (apenas 16 meses). Andropov e Chernenko sucederam o líder Leonid Brejnev, que mandou na União Soviética entre 1964 e 1982. “Os dois líderes que vieram depois dele eram figuras anódinas e desconhecidas. A idéia que se tinha é que o regime estava caindo aos pedaços e seus mandatários estavam enganando o povo”, afirma a historiadora Maria Aparecida de Aquino.

A final do campeonato de xadrez de 1985, portanto, foi realizada em meio a profundas transformações na vida soviética. “Karpov representava o período de estagnação de Brejnev e Kasparov era o símbolo da ruptura e dos novos ventos trazidos por Gorbachev”, diz o então enxadrista Luiz Roberto da Costa Júnior, sócio do Clube de Xadrez Epistolar Brasileiro. Para evitar o fiasco do embate anterior, a Fide mudou as regras do jogo e limitou em 24 o número de partidas. Seria campeão quem acumulasse mais pontos ao fim do confronto – as vitórias valeriam um ponto e os empates, meio ponto para cada competidor. Em caso de igualdade, Karpov manteria o título.

O reinício do confronto teve como palco a Sala de Concerto Tchaikovsky, em Moscou. Kasparov ganhou a primeira partida, mas Karpov recuperou-se e venceu os jogos 4 e 5, fazendo 2 a 1. O desafiante empatou a disputa no 11º jogo, após cinco empates sucessivos, e virou o placar no 16º embate, fazendo 3 a 2. Ampliou a vantagem ao ganhar o 19º jogo, mas, três partidas depois, Karpov conquistou sua terceira vitória, encostando no marcador (4 a 3). Faltando duas partidas para o fim da disputa, Karpov precisava de mais uma vitória e um empate para continuar com a coroa. O penúltimo jogo acabou sem vencedor e o último foi ganho por Kasparov, que enfim se sagrou campeão.

A vitória do jovem enxadrista foi comemorada no Ocidente, mas teve um gosto amargo para as autoridades de Moscou. “Nos bastidores, eu era visto como um alienígena. Primeiro, não gostavam de minha origem ‘pouco pura’: sou filho de pai judeu com mãe armênia”, declarou Kasparov em entrevista dada à revista Veja em 2004. “Depois, nunca me manifestei a favor do governo russo. Por causa disso, minha presença no pódio do xadrez soviético era incômoda para o regime. Eles teriam preferido dar o ouro a um sujeito como Anatoly Karpov, abertamente simpático ao comunismo.” Um ano depois, falando a uma revista espanhola, o derrotado deu o troco: “Kasparov é muito inteligente e absorve tudo muito rápido, mas só foi tão grande pelo que aprendeu comigo”.

Em outras três ocasiões (1986, 87 e 89), os enxadristas se enfrentaram pelo título e Kasparov, que se aposentou dos tabuleiros, sempre manteve a coroa. Um episódio curioso ocorreu na revanche de 1986. Após 16 partidas, Kasparov liderava com três pontos de vantagem. Foi quando Karpov venceu três partidas seguidas e empatou o jogo. “Kasparov pediu o adiamento da partida seguinte e demitiu um de seus analistas, suspeito de repassar a preparação das aberturas para a equipe rival”, conta Costa Júnior.

Posteriormente, Kasparov ganhou mais um jogo e manteve o título. Apesar da aparente superioridade de Kasparov, o páreo entre os dois “K”, talvez a maior rivalidade da história do xadrez, sempre foi muito equilibrado. Prova disso é que, das 144 partidas disputadas entre eles no período 1984-1989, Kasparov venceu 21 e Karpov, 19. Os outros 104 jogos terminaram em empate.

Além de transformar profundamente as relações internacionais, o fim da União Soviética teve enorme impacto sobre o mundo do xadrez. Livre da burocracia comunista, Kasparov decidiu abandonar a Fide, controlada por ex-soviéticos, e, em 1993, fundou a Associação Profissional de Xadrez (PCA, na sigla em inglês). Tornou-se, no mesmo ano, seu primeiro campeão. Com a dissidência do antigo rival, Karpov ficou com o título da Federação Internacional, posto que manteve até 1999. No ano seguinte, foi a vez de Kasparov perder a coroa da PCA. Mesmo jogando por associações diferentes, eles não pararam de se enfrentar.

1985 - RESULTADOS DO CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ.


23 maio 2019

CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ

O CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ

Considera-se que a disputa do campeonato mundial iniciou em 1886, quando os dois principais enxadristas da época enfrentaram-se. De 1886 a 1946, o campeonato foi conduzido em uma base informal, com o desafiante tendo que vencer o campeão. De 1948 a 1993, a organização do campeonato foi administrada pela FIDE, a organização internacional de xadrez. Em 1993, o então campeão Garry Kasparov rompeu com a FIDE e criou a PCA e um campeonato paralelo. Esta situação durou até 2006, quando o título foi reunificado. Ainda em 2006, as duas entidades de xadrez foram unificadas.


Campeonatos Mundiais de Xadrez oficiais (1886–1946)

1886 - Wilhelm Steinitz vs. Johannes Zukertort
1889 - Wilhelm Steinitz vs. Mikhail Chigorin
1891 - Wilhelm Steinitz vs. Isidor Gunsberg
1892 - Wilhelm Steinitz vs. Mikhail Chigorin
1894 - Wilhelm Steinitz vs. Emanuel Lasker
1897 - Emanuel Lasker vs. Wilhelm Steinitz 
1907 - Emanuel Lasker vs. Frank Marshall
1908 - Emanuel Lasker vs. Siegbert Tarrasch
1910 - Emanuel Lasker vs. Carl Schlechter
1910 - Emanuel Lasker vs. Dawid Janowski
1921 - Emanuel Lasker vs. José Raúl Capablanca
1927 - José Raúl Capablanca vs. Alexander Alekhine
1929 - Alexander Alekhine vs. Efim Bogoljubov
1934 - Alexander Alekhine vs. Efim Bogoljubov
1935 - Alexander Alekhine vs. Max Euwe
1937 - Max Euwe vs. Alexander Alekhine

Campeonato Mundial da FIDE (1948–1993)

1948 - Mikhail Botvinnik Campeão (Todos contra todos de 5 turnos, com 5 jogadores).
1951 - Mikhail Botvinnik vs. David Bronstein
1954 - Mikhail Botvinnik vs. Vasily Smyslov
1957 - Mikhail Botvinnik vs. Vasily Smyslov
1958 - Vasily Smyslov vs. Mikhail Botvinnik
1960 - Mikhail Botvinnik vs. Mikhail Tal
1961 - Mikhail Tal vs. Mikhail Botvinnik
1963 - Mikhail Botvinnik vs. Tigran Petrosian
1966 - Tigran Petrosian vs. Boris Spassky
1969 - Tigran Petrosian vs. Boris Spassky
1972 - Boris Spassky vs. Bobby Fischer
1978 - Anatoly Karpov vs. Viktor Korchnoi
1981 - Anatoly Karpov vs. Viktor Korchnoi
1984 - Anatoly Karpov vs. Garry Kasparov
1985 - Anatoly Karpov vs. Garry Kasparov
1986 - Garry Kasparov vs. Anatoly Karpov
1987 - Garry Kasparov vs. Anatoly Karpov
1990 - Garry Kasparov vs. Anatoly Karpov

Campeonato Mundial de Xadrez Clássico (1993–2006) 

O campeão mundial Garry Kasparov e o desafiante Nigel Short se separaram da FIDE e disputaram a partida sob as circunstâncias da Professional Chess Association.

1993 - Garry Kasparov vs. Nigel Short
1995 - Garry Kasparov vs. Viswanathan Anand
2000 - Garry Kasparov vs. Vladimir Kramnik
2004 - Vladimir Kramnik vs. Peter Leko

Campeonatos Mundiais de Xadrez da FIDE (1993–2006)

Garry Kasparov foi destituído de seu título da FIDE depois que ele e seu desafiante Nigel Short romperam com a organização em 1993. Anatoly Karpov, participante da última edição do torneio, em 1990, foi anunciado campeão mundial.

Em 1996, a FIDE mudou as regras do torneio, fazendo com que o então campeão mundial não fosse mais automaticamente classificado para a partida final.

1993 - Anatoly Karpov vs. Jan Timman
1996 - Anatoly Karpov vs. Gata Kamsky
1998 - Anatoly Karpov Campeão (Sistema eliminatório)
1999 - Alexander Khalifman Campeão (Sistema eliminatório)
2000 - Viswanathan Anand Campeão (Sistema eliminatório)
2002 - Ruslan Ponomariov Campeão (Sistema eliminatório)
2004 - Rustam Kasimdzhanov Campeão (Sistema eliminatório)
2005 - Veselin Topalov Campeão (Todos contra todos)

Campeonatos Mundiais de Xadrez (2006–atual)

2006 - Veselin Topalov vs. Vladimir Kramnik
2007 - Viswanathan Anand Campeão (Todos contra todos)
2008 - Viswanathan Anand vs. Vladimir Kramnik
2010 - Viswanathan Anand vs. Veselin Topalov
2012 - Viswanathan Anand vs. Boris Gelfand
2013 - Viswanathan Anand vs. Magnus Carlsen
2014 - Magnus Carlsen vs. Viswanathan Anand
2016 - Magnus Carlsen vs. Sergey Karjakin
2018 - Magnus Carlsen vs. Fabiano Caruana