Plutarco de Queronéia (50-120) registrou o relato de Arisdeu de Soles, da Silícia, Ásia Menor, um homem sem predicados morais, segundo a opinião vigente na ocasião, que no ano 79 desta era cristã, depois de violenta queda, foi dado como morto. Justamente quando estavam para enterrar o corpo humano de Arisdeu, três dias depois do acidente, ele reentrou no seu corpo, recobrou plenamente a consciência e relatou, em detalhes, a Protógenes, e a outros amigos seus, sua experiência lúcida fora do corpo humano durante aqueles três dias (projeção consciente prolongada). Desta ocasião em diante, Arisdeu se transformou num homem altamente virtuoso, e até mudou de nome, conforme o depoimento de seus contemporâneos (reciclagem encarnatória projetiva). Eis alguns trechos do relato de Plutarco (Páginas 164-172 , Societé de D'Édition "Les Belles Lettres", 1974):
O fenômeno da Projeção Consciente.
"Eis portanto a narração que fiz: Thespesios de Soles, amigo íntimo de Protógenes, que conosco aqui conviveu, passou a primeira parte de sua vida em plena dissipação e, em conseqüência perdeu rapidamente seus bens. Posteriormente, a necessidade o levou ao vício; na busca, entretanto, daquela riqueza que ele lamentou perder, passou a se comportar como esses devassos que, ao invés de cuidar das mulheres que têm, as abandonam e depois tentam corrompê-las a fim de as repreender, fraudulentamente, quando já tiverem elas contraído novas uniões. Em breve ele não recua diante de nenhum ato desonroso, desde que tal ato lhe proporcione prazer e ganho, de forma que consegue uma fortuna, aliás, medíocre, e uma grande e rápida reputação de desonesto. Mas o que lhe causou maior dano foi o oráculo dado por Amphiloco: Ele havia mandado perguntar ao deus se o resto de sua vida seria melhor; o oráculo respondeu que ele estaria melhor quando estivesse morto. Na realidade, em certo sentido, foi dessa forma que as coisas ocorreram. Levando um tombo, de uma certa altura, ele cai sobre a nuca e apesar de não se ferir, em estado de choque, passa por morto. Assim é que três dias mais tarde, no exato momento em que ia ser sepultado volta ele à vida. Rapidamente reanimado e restabelecido realiza uma mudança inacreditável no seu modo de vida; de fato, os Silicianos não conheceram entre seus contemporâneos homem mais escrupuloso em seus compromissos, mais piedoso com relação à divindade, mais importuno para seus inimigos, mais seguro para seus amigos. Mudou de tal forma, que aqueles que o conheciam, queriam saber a razão dessa conversão, pois, se dizia, uma transformação tão radical de caráter não poderia ser obra do acaso. E, realmente era verdade, como ele mesmo contou a Protógenes e a outros amigos igualmente dignos de fé. Desde que sua alma pensante saiu de seu corpo, sua primeira impressão foi semelhante àquela de um mergulhador projetado para fora de seu barco no abismo; vejamos, então, o efeito desta mudança. Emergindo um pouco, parecia-lhe que todo seu ser respirava livremente, e que ele enxergava em todas as direções de uma só vez, estando sua alma aberta como um olho único." "Na maior parte, estas almas lhe eram desconhecidas; entretanto, ele vê duas ou três de seu conhecimento, e se esforça para aproximar-se e lhes falar; porém elas não o compreendem, pois estavam fora de si, não se pertenciam, enlouquecidas, tomadas de pânico, e fugiam de toda vista e de todo o contato." "Nesse meio ele reconhece a alma de um primo; ou melhor, ele não estava bem seguro, pois este primo havia morrido quando ele ainda era criança; mas a alma aproximando-se disse: 'Bom dia Thespésios'. Ele espantou-se, disse que não se chamava Thespésios, mas Arisdeu. "Sim, antes, respondeu o outro, porém de agora em diante tu és Thespésios. Na verdade tu não estás morto, vieste até aqui por um decreto dos deuses, com a parte pensante de tua alma; tu deixaste o resto no teu corpo como uma âncora. Saiba através destes signos como te conduzires agora e mais tarde: as almas dos mortos não projetam sombras e seus olhos não piscam." "Em tudo, Thespésios havia sido um simples expectador, porém, como poderia retornar, um grande medo apoderou-se dele; uma mulher enorme e de uma beleza maravilhosa o segurou e disse; 'Venho aqui, para melhor gravar em ti cada uma de tuas lembranças'. Ela aproximou-se com uma pequena vara avermelhada ao fogo, como aquela que usam os pintores. Mas uma outra mulher sobrevindo a impediu. E ele, de súbito como aspirado por um sopro violento e irresistível de um sifão, retorna a seu corpo e abre os olhos quase abraçando o seu túmulo."
Para saber mais acesse e veja também as postagens: