O primeiro satélite da série, o Sputnik 1, foi lançado em 4 de outubro de 1957, consistindo-se no primeiro satélite artificial da história.
Seu objetivo era determinar a densidade das camadas mais altas da atmosfera, e os dados transmitidos através de sinais de rádio ( BIP-BIP-BIP ) podiam ser escutados por radioamadores do mundo inteiro; manteve-se ativo por 21 dias.
Sua órbita decaiu e ele caiu de volta à Terra em 4 de janeiro de 1958.
Os princípios para a construção do Sputnik 1 eram os seguintes:
1. o satélite deveria ser o mais simples e confiável possível e permitir o uso da tecnologia em projetos futuros;
2. o corpo do satélite deveria ser esférico (alta resistência aerodinâmica), com o objetivo de estudar a densidade das altas camadas da atmosfera durante a sua viagem;
3. o satélite deveria ser equipado com transmissores de rádio operando em no mínimo duas freqüências, com potência suficiente para ser rastreado por radioamadores e obter informações sobre a propagação de sinais de rádio através da atmosfera;
4. as antenas deveriam ser projetadas de modo a não interferir no sinal de rádio em caso de desalinhamento da trajetória do satélite;
5. as fontes de energia (baterias) a bordo deveriam garantir um funcionamento de 2 a 3 semanas;
6. o acoplamento do satélite ao foguete deveria ser feito de forma a impedir qualquer falha na separação.
Os cinco objetivos primários da missão eram:
1. testar os métodos de colocação de um satélite artificial em órbita;
2. pesquisar a densidade das camadas altas da atmosfera através do cálculo do arrasto aerodinâmico e da velocidade e decadência orbitais;
3. testar métodos ópticos e de rádio de rastreamento orbital;
4. determinar os efeitos da propagação das ondas de rádio através da atmosfera;
5. verificar os princípios da pressurização em órbita.
O Sputnik 1 era um satélite pressurizado um diâmetro de 58 cm e 4 antenas de cerca de 2,5 metros de comprimento. Pesava 83,6 quilos.
Era constituído de dois hemisférios de alumínio conectados juntos, contendo dois transmissores de rádio, um sistema termo-regulador, um sistema de ventilação, um sistema de comunicação e transmissores de temperatura e pressão. Duas baterias de prata e zinco forneciam energia elétrica para o satélite.
Os seus instrumentos e fontes de energia elétrica estavam isolados dentro de uma redoma pressurizada com 1,3 atmosferas de nitrogênio, que ainda continha medidores de temperatura (interna à redoma e externa), um detector de meteoritos e dois transmissores de rádio que se alternavam na transmisão de sinais para a Terra.
O Sputnik 1 transmitiu informações de sua órbita de 96 minutos durante mais de 21 dias, alcançando os seus objetivos plenamente. Osciloscópios e outros instrumentos, analisavam os sinais recebidos.
Nos 92 dias que permaneceu em órbita, o Sputnik 1 completou 1.400 órbitas ao redor da Terra, percorrendo um total de 70 milhões de quilômetros. Em algum momento ocorreu uma queda de pressão e alterações na temperatura da redoma interna. Especulou-se que pode ter havido uma colisão com algum meteorito, embora nada tenha sido realmente detectado.
Com este lançamento, a União Soviética provou que estava apta a colocar em órbita objetos de 80 quilos (que obviamente poderiam ser bombas atômicas). Assim, qualquer alvo situado em qualquer parte do mundo estava ao alcance dos ICBMs multiestágio soviéticos. Ao mesmo tempo, os americanos amargavam diversos fracassos nos seus programas de ICBMs.
O Sputnik 2 foi lançado em 3 de novembro de 1957, e carregava a cadela Kudriavka ("Crespinha"), que se tornou conhecida pelo nome da sua raça - Laika, a bordo. Laika era uma cachorra de rua em Moscou, e foi escolhida entre dez outros cachorros por ser calma e sociável.
O peso do satélite era de 500 quilos, muito mais do que os americanos poderiam colocar em órbita naquele momento. Era um cone de 2 metros de base por 4 metros de altura. Continha diversos compartimentos que continham transmissores de rádio, um sistema de telemetria, um sistema de regeneração e controle de temperatura para a cabine, além de instrumentos científicos, como espectrofotômetros para medição da radiação solar (emissões ultravioleta e raios-X) e raios cósmicos.
Outro compartimento, pressurizado, levava Laika, com cerca de 6 quilos, que era vigiada por uma câmara de TV. A "cabine de passageiros" possuía espaço suficiente para que Laika ficasse de pé ou deitada; um sistema de regeneração de ar lhe fornecia oxigênio, e sua comida e água eram fornecidas em forma gelatinosa. Laika estava amarrada a arreios e tinha uma bolsa de coleta de dejetos. Havia diversos eletrodos presos a seu corpo para coleta de seus sinais vitais.
Após o lançamento, não ocorreu a separação correta de parte do foguete propulsor, o que impediu o funcionamento do controle de temperatura, que alcançou os 40 graus centígrados no interior da cabine. As imagens e os sinais transmitidos pelos instrumentos encarregados de vigiar Laika mostraram que ela estava agitada por causa do calor, mas se alimentava.
Segundo versão recente, Laika teria morrido poucas horas depois do lançamento e não depois de vários dias em órbita, como afirmava a versão oficial russa. A afirmação foi feita por Dimitri Malashenkov, no Congresso Espacial Mundial, em Houston (outubro de 2002). Ele afirmou que a cadela morreu devido a um choque provocado no espaço e por um ataque de pânico, logo após a decolagem. Malashenkov, do Instituto para Problemas Biológicos de Moscou, afirmou que o coração de Laika parou poucas horas depois do lançamento.
Como o Sputnik 2 não estava equipado para a reentrada na atmosfera, estava planejado sacrificar Laika após os dez dias de vôo. O satélite ainda permaneceu quase meio ano em órbita.
A reentrada do Sputnik 2 na atmosfera terrestre foi um espetáculo inesquecível. Em função das características da sua órbita, o satélite passava sempre na mesma hora nos mesmos lugares, sendo facilmente identificado no céu a olho nu. Nas últimas noites que precederam a reentrada, o Sputnik 2 navegou como uma estrela brilhante nos céus da Inglaterra logo após o crepúsculo, espetáculo este presenciado por milhões de pessoas. Nas primeiras horas da manhã do dia 14 de abril de 1958, finalmente ele caiu, sobre o Caribe. Muitas vezes mais brilhante do que Vênus, deixou atrás de si uma grande quantidade de fragmentos brilhantes e um rastro luminoso, e finalmente se extinguiu.
O Sputnik 3 foi lançado em 15 de maio de 1958, após uma tentativa fracassada de lançamento no dia 3 de fevereiro.
Sputnik 3 - Esquema.
Da forma de um cone com 3,6 metros de altura, era um laboratório geofísico com 12 instrumentos científicos, que realizou medições e experiências sobre o campo magnético, o cinturão radioativo (descoberto pelo satélite americano Explorer 1 três meses antes) e a ionosfera. Permaneceu em órbita, funcionando normalmente, por quase 2 anos.
A série Korabl-Sputnik
Também houve uma segunda série de Sputniks, destinados a aperfeiçoar outras naves espaciais, em especial a não tripulada Venera e a tripulada Vostok. Esta série era chamada de "Korabl-Sputnik" (nave-satélite).
O satélite Korabl-Sputnik 1, também chamado de Sputnik 4, foi o primeiro teste de lançamento de um protótipo da nave Vostok. Lançado em 15 de maio de 1960, com impressionantes 2.500 quilos, permaneceu em órbita até 1965.
Oficialmente, sua missão foi o desenvolvimento e a verificação dos sistemas principais de uma nave tripulada e o retorno à Terra. A cabine estava equipada para simular a sobrevivência de um tripulante, contando inclusive com um boneco de dimensões humanas.
Após 4 dias de vôo do Sputnik 4, que não tinha couraça térmica, a cabine de reentrada foi separada do módulo de serviço e os retrofoguetes foram disparados mas a nave, ao invés de reingressar na atmosfera, acabou sendo desviada para uma órbita excessivamente elevada.
Em 23 de junho de 1960 um novo teste do Korabl-Sputnik foi abortado antes do lançamento.
O Korabl-Sputnik 2 (Sputnik 5), com um peso de 1.440 quilos, foi lançado em 19 de agosto de 1960. Carregava os cães Belka e Strelka, que foram recuperados com sucesso, após orbitarem por um dia inteiro. Além dos cães também havia ratos e moscas-das-frutas. A nave fez uma reentrada perfeita na atmosfera após 17 órbitas.
Strelka deu à luz, tempos após o vôo, a 6 filhotes saudáveis. Um dos filhotes, de nome Pushinka, foi dado de presente por Nikita Kruschev a Caroline Kennedy, filha do presidente John F. Kennedy.
O Korabl-Sputnik 3 (Sputnik 6), lançado em 1 de dezembro de 1960, foi o provável precursor da nave Vostok, com um peso de 4.500 quilos. A missão fracassou devido a problemas com retrofoguetes na reentrada, matando seus ocupantes caninos, Pchelka e Mushka, bem como alguns ratos, insetos e plantas, no dia 2 de dezembro. Mais uma missão mal sucedida da série Korabl-Sputnik ocorreu em 20 de dezembro de 1960, quando a cápsula Vostok não alcançou a órbita prevista e retornou emergencialmente na atmosfera. Os seus ocupantes (diversos animais) foram salvos.
O Sputnik 7, lançado em 4 de fevereiro de 1961, era constituído por uma plataforma orbital de lançamento (Tyazheliy Sputnik 4) e o satélite Venera 1. Com quase 6.500 quilos, obteve sucesso parcial, pois o quarto estágio do foguete que devia lançar a sonda para Vênus não alcançou seus objetivos. O Sputnik 7 foi erroneamente considerado, por alguns analistas ocidentais, como uma possível tentativa fracassada de vôo tripulado. No entanto, tratava-se realmente de uma plataforma de lançamento de uma sonda Venera com destino a Vênus.
Em 12 de fevereiro de 1961 foi lançado o Sputnik 8, que carregava em seu bojo a sonda planetária não tripulada Venera 1. O Sputnik, com cerca de 6.500 quilos, lançou a Venera (cerca de 650 quilos) a partir da órbita terrestre rumo a uma órbita solar. Os objetivos da Venera, além de adquirir tecnologia sobre lançamentos diretamente do espaço, eram o teste de comunicações em distâncias muito longas e controle da plataforma de lançamento espacial (Sputnik 8), além de diversos outros experimentos científicos, tais como um cálculo mais preciso das dimensões do Sistema Solar. Desta forma, os soviéticos tinham adquirido experiência no disparo a partir da órbita, o que deixava os americanos extremamente preocupados, em razão da possibilidade de militarização do espaço e da construção quase imediata de estações orbitais armadas com mísseis atômicos.
Em 9 de março de 1961 foi lançado o Korabl-Sputnik 4 (Sputnik 9), com um peso de 4.700 quilos, tripulado por um boneco de dimensões humanas e pelo cachorro Chernushka. A nave foi recuperada com sucesso no mesmo dia, após apenas 1 órbita. O objetivo era o desenvolvimento do projeto da nave espacial e dos sistemas de bordo, que garantiriam a segurança necessária para o vôo humano.
O quinto e último teste sem tripulante humano com uma nave Vostok foi realizado em 25 de março de 1961, quando foi disparado o Korabl-Sputnik 5 (Sputnik 10), também com 4.700 quilos, levando a bordo um boneco de dimensões humanas (apelidado de Ivan Ivanovich) e o cão Zvezdochka, que foi resgatado sem problemas. A nave ainda carregava um sistema de TV e vários instrumentos científicos. A missão obteve sucesso pleno, capacitando a nave Vostok para uso com tripulante humano.
Os soviéticos haviam instalado a bordo da nave um gravador com fitas que reproduziam a fala humana, com o objetivo de efetuar o teste final dos sistemas de comunicação.
O vôo histórico de Gagarin foi realizado em 12 de abril de 1961 - apenas 2 semanas após o vôo do boneco Ivan Ivanovich.
Ressalte-se, neste ponto, que existem divergências sobre datas e nomes das naves. Durante a Guerra Fria os soviéticos ocultavam as informações o máximo possível.
Outras missões Sputnik
Não há unanimidade sobre quantas e quais foram as missões Sputnik. Há fontes que continuam a série até 1963, incluindo vôos da nave Vostok, de satélites Kosmos e de sondas Mars. Outras fontes encerram a série no Spunik 3.
Fonte: História da Conquista Espacial - Karl H. Benz.
Veja também neste blog: NAVES ESPACIAIS / SPACECRAFTS.
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