26 junho 2016

LEONARDO DA VINCI

Leonardo da Vinci

Leonardo da Vinci.

Leonardo di Ser Piero da Vinci, ou simplesmente Leonardo da Vinci [Anchiano (República de Florença, atual Itália), 15 de abril de 1452 - Amboise (França), 2 de maio de 1519], foi um polímata, uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento, que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. É ainda conhecido como o percursor da aviação e da balística. Leonardo frequentemente foi descrito como o arquétipo do homem do Renascimento, alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela sua capacidade de invenção. É considerado um dos maiores pintores de todos os tempos e como possivelmente a pessoa dotada de talentos mais diversos a ter vivido. Segundo a historiadora de arte Helen Gardner, a profundidade e o alcance de seus interesses não tiveram precedentes e sua mente e personalidade parecem sobre-humanos para nós, e o homem em si [nos parece] misterioso e distante.

Nascido como filho ilegítimo de um notário, Piero da Vinci, e de uma camponesa, Caterina, em Vinci, na região da Florença, foi educado no ateliê do renomado pintor florentino, Verrocchio. Passou a maior parte do início de sua vida profissional a serviço de Ludovico Sforza (Ludovico il Moro), em Milão; trabalhou posteriormente em Veneza, Roma e Bolonha, e passou seus últimos dias na França, numa casa que lhe foi presenteada pelo rei Francisco I.

Leonardo era, como até hoje, conhecido principalmente como pintor. Duas de suas obras, a Mona Lisa e A Última Ceia, estão entre as pinturas mais famosas, mais reproduzidas e mais parodiadas de todos os tempos, e sua fama se compara apenas à Criação de Adão, de Michelangelo. O desenho do Homem Vitruviano, feito por Leonardo, também é tido como um ícone cultural, e foi reproduzido por todas as partes, desde o euro até camisetas. Cerca de quinze de suas pinturas sobreviveram até os dias de hoje; o número pequeno se deve às suas experiências constantes - e frequentemente desastrosas - com novas técnicas, além de sua procrastinação crônica. Ainda assim, estas poucas obras, juntamente com seus cadernos de anotações - que contêm desenhos, diagramas científicos, e seus pensamentos sobre a natureza da pintura - formam uma contribuição às futuras gerações de artistas que só pode ser rivalizada à de seu contemporâneo, Michelangelo.

Leonardo é reverenciado pela sua engenhosidade tecnológica; concebeu ideias muito à frente de seu tempo, como um protótipo de helicóptero, um tanque de guerra, o uso da energia solar, uma calculadora, o casco duplo nas embarcações, e uma teoria rudimentar das placas tectônicas. Um número relativamente pequeno de seus projetos chegou a ser construído durante sua vida (muitos nem mesmo eram factíveis), mas algumas de suas invenções menores, como uma bobina automática, e um aparelho que testa a resistência à tração de um fio, entraram sem crédito algum para o mundo da indústria. Como cientista, foi responsável por grande avanço do conhecimento nos campos da anatomia, da engenharia civil, da óptica e da hidrodinâmica.

Leonardo da Vinci é considerado por vários o maior gênio da história, devido a sua multiplicidade de talentos para ciências e artes, sua engenhosidade e criatividade, além de suas obras polêmicas. Num estudo realizado em 1926 seu QI (quociente de inteligência) foi estimado em cerca de 180.

BIOGRAFIA

Genealogia

Leonardo nasceu em 15 de abril de 1452, "na terceira hora da noite", de um sábado, no vilarejo de Anchiano, na comuna italiana de Vinci, na Toscana, situada no vale do rio Arno, dentro do território dominado à época por Florença. Era filho ilegítimo de Messer Piero Fruosino di Antonio da Vinci, um notário florentino, e Caterina, uma camponesa que pode ter sido uma escrava oriunda do Oriente Médio. Leonardo não tinha um sobrenome no sentido atual; "da Vinci" significa simplesmente "de Vinci": seu nome completo de batismo era "Leonardo di ser Piero da Vinci", que significava "Leonardo, (filho) de (Mes) ser, Piero da Vinci". O próprio Leonardo da Vinci assinava seus trabalhos simplesmente como Leonardo ou Io Leonardo ("Eu, Leonardo"); presume-se que ele não usou o nome do pai por causa do estado ilegítimo.

Infância, 1452 - 1468

Pouco se sabe da infância de Leonardo. Provavelmente passou os seus primeiros quatro ou cinco anos no vilarejo de Anchiano, e depois do casamento de sua mãe com um lavrador de nome Accattabriga di Piero del Vaca, mudou-se para a casa da família de seu pai então casado com uma jovem de dezesseis anos chamada Albiera di Giovanni Amadori, com a qual Leonardo tinha uma boa relação, a quem chamava de madrinha, em companhia de seu avô, Antonio, e tio, Francesco, na paróquia de Santa Croce em Vinci, em um ambiente bucólico aconchegante, o que é significativo na personalidade de um Leonardo ligado a natureza. Albiera morreu muito cedo sem filhos. A morte do seu avô Antonio a quem muito estimava deu-se logo após em 1468, e Leonardo apesar de ilegítimo continuara filho único no segundo casamento do seu pai Piero, com Francesca di Giuliano Lanfredini; testemunharia a mais dois casamentos deste, até que em 1476, quando viviam em Florença, Piero teve o tão esperado filho legítimo. Em sua vida adulta, Leonardo só se recordaria de dois incidentes de sua infância, um deles, tinha como presságio: Parece-me que sempre fui destinado a me interessar muito profundamente por falcões, pois lembro-me como uma de minhas primeiras recordações que, quando estava no berço, um falcão desceu sobre mim e abriu-me a boca com a cauda, e me bateu muitas vezes entre os lábios com ela.

O segundo ocorreu enquanto ele brincava nas montanhas da região, e depois de vagar por alguma distância entre as rochas projetadas acima, cheguei à boca de uma imensa caverna, diante da qual me quedei por algum tempo estupefato, pois ignorava a sua existência (…) e após ficar ali algum tempo, de repente despertaram dentro de mim duas emoções - medo e desejo - medo da escura e ameaçadora caverna, desejo de ver se haveria alguma coisa maravilhosa lá dentro.

A infância e a juventude de Leonardo foram tema de diversas conjunturas históricas. Giorgio Vasari, biógrafo do século XVI que escreveu sobre os pintores do Renascimento, conta como um camponês local teria pedido a Ser Piero que mandasse seu filho pintar um quadro numa placa redonda ou escudo. Leonardo respondeu com uma pintura de serpentes soltando fogo - ou mesmo um dragão - tão terrível e mesmo assim tão surpreendente que Ser Piero decidiu vender a um negociante de arte florentino que, por sua vez, a vendeu ao Duque de Milão. Enquanto isso, com parte do lucro da venda, Ser Piero comprou uma placa, decorada com um coração penetrado por uma flecha, que ele deu ao camponês. Leonardo tornou-se um jovem instruído e sempre referido pelos estudiosos como dono de uma bela aparência de fartos cabelos louros e olhos claros, além de uma personalidade afável com o trato das pessoas.

Ateliê de Verrocchio, 1469 - 1476

Na sua adolescência, Leonardo foi fortemente influenciado por duas grandes personalidades da época, Lourenço de Médici e o grande artista Andrea del Verrocchio.

Em 1469, com dezessete anos, Leonardo passou a ser aprendiz de um dos mais bem-sucedidos artistas de seu tempo, Andrea di Cione, conhecido como Verrocchio (Olho verdadeiro). O ateliê de Verrocchio estava no centro das correntes intelectuais de Florença, o que garantiu ao jovem Leonardo uma educação nas ciências humanas. Outros pintores famosos que passaram por um aprendizado neste mesmo ateliê foram Ghirlandaio, Perugino, Botticelli e Lorenzo di Credi. Leonardo foi exposto desde cedo a uma vasta gama de técnicas, e teve a oportunidade de aprender desenho técnico, química, metalurgia, mecânica, carpintaria, a trabalhar com materiais como couro e metal, fazer moldes, além das técnicas artísticas de desenho, pintura, escultura e modelagem.

Boa parte da produção de pinturas do ateliê de Verrocchio era feita por seus funcionários. De acordo com Vasari, Leonardo colaborou com Verrocchio em seu O Batismo de Cristo, pintando o jovem anjo da esquerda, que segura a túnica de Jesus de maneira tão superior ao seu próprio mestre que Verrocchio teria decidido nunca mais pintar. Isto provavelmente é um exagero; mas um exame atento da pintura mostra que existem diversos retoques feitos sobre a têmpera utilizando a nova técnica de pintura a óleo, como o cenário, as rochas que podem ser vistas ao fundo e boa parte da figura do próprio Jesus, todas testemunhas da mão de Leonardo.

O próprio Leonardo pode ter sido o modelo para duas obras de Verrocchio, incluindo a estátua de bronze de David, no Bargello, e o Arcanjo em Tobias e o Anjo. Na altura apenas se disse que a estátua de David tinha sido inspirada num dos mais belos aprendizes do atelier de Verrocchio.

Em 1472, com vinte anos de idade, Leonardo se qualificou para o cargo de mestre na Guilda de São Lucas, uma guilda de artistas e doutores em medicina, porém mesmo depois de seu pai ter montado seu próprio ateliê, sua ligação com Verrocchio permaneceu tal que ele continuou a colaborar com ele. Aos poucos, as pessoas da corte passam a fazer encomendas diretamente a Leonardo. Sua obra mais antiga a ser datada é um desenho em pena e tinta do vale do Arno, feito em 5 de agosto de 1473.

Vida profissional, 1476 - 1513

Em 1476, Leonardo da Vinci, juntamente com mais três alunos do ateliê de Verrocchio, foram acusados de sodomia; segundo a acusação referente a Leonardo, ele teria tido relações homossexuais com Jacopo Saltarelli, um jovem de 17 anos muito popular à época em Florença como prostituto. Diante, no entanto, da falta de provas concretas que confirmassem semelhante acusação, Leonardo foi absolvido. A partir desta data até 1478 não existem registros nem de obras suas nem de seu paradeiro, embora se costuma presumir que Leonardo tenha estado no ateliê, em Florença, entre 1476 e 1481. Em 1478 foi-lhe encomendada a pintura de um retábulo para a Capela de São Bernardo, e a Adoração dos Magos, em 1481, para os monges de San Donato a Scopeto. Esta importante encomenda foi interrompida com a ida de Leonardo para Milão.

Em 1482, Leonardo, que de acordo com Vasari era um músico muito talentoso, criou uma lira de prata, com a forma da cabeça de um cavalo. Lourenço de Médici, dito "il Magnifico", grande humanista, enviou Leonardo, a portar a lira como um presente, a Milão, para selar a paz com Ludovico Sforza (dito il Moro, "o Mouro"), Duque de Milão não oficial. Foi nesta época que Leonardo da Vinci escreveu uma carta a Ludovico, citada frequentemente, na qual ele descreve as coisas diversas e maravilhosas que conseguia realizar no campo da engenharia, e informando o seu senhor que ele também podia pintar.

Leonardo continuou a trabalhar em Milão, entre 1482 e 1499. Recebeu a encomenda de pintar a Virgem dos Rochedos para a Confraria da Imaculada Conceição, e a Última Ceia para o mosteiro de Santa Maria delle Grazie. Enquanto vivia em Milão, entre 1493 e 1495, Leonardo listou uma mulher, chamada Caterina, entre seus dependentes, nas suas declarações de imposto de renda. Quando ela morreu, em 1495, a lista dos gastos com o funeral sugere que ela pode ter sido sua mãe.

Trabalhou em diversos projetos para Ludovico, incluindo o preparo de carros alegóricos e desfiles para ocasiões especiais, o projeto de uma cúpula para a Catedral de Milão, e um modelo de um imenso monumento equestre para Francesco Sforza, o antecessor de Ludovico. Setenta toneladas de bronze foram separadas para a sua confecção; o monumento permaneceu inacabado durante anos, o que não foi comum na carreira de Leonardo. Em 1492 um modelo de argila foi terminado; ele era maior, em tamanho, que as duas únicas estátuas equestres do Renascimento, a estátua de Gattemelata, em Pádua, e a de Bartolomeo Colleoni, de Verrocchio, em Veneza, e ficou conhecido como o "Gran Cavallo".

Leonardo começou a fazer os projetos detalhados para a sua fundição; Michelangelo, no entanto, sugeriu, de maneira indelicada, que Leonardo seria incapaz de fazê-lo. Em novembro de 1494 Ludovico usou o bronze para fabricar canhões, visando defender a cidade da invasão de Carlos VIII da França.

No início da Segunda Guerra Italiana, em 1499, as tropas invasoras francesas de Luís XII sucessor de Carlos VIII, utilizaram-se do modelo de argila do Gran Cavallo como alvo para praticar tiro. Com a deposição de Ludovico Sforza, Leonardo, juntamente com seu assistente, Salai, e seu amigo, o matemático Luca Pacioli, abandonou Milão e fugiu para Veneza, passando por Mântua, sendo que em Veneza foi empregado como arquiteto e engenheiro militar, planejando métodos de defender a cidade de um ataque naval.

Ao retornar a Florença, em 1500, foi recebido, juntamente com sua família e criadagem, pelos monges servitas do mosteiro de Santissima Annunziata, onde tinha à sua disposição um ateliê. Foi ali que, de acordo com Vasari, criou o desenho da Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista - uma obra que conquistou tanta admiração que homens e mulheres, jovens e velhos vinham vê-la, em massa, como se estivessem frequentando um grande festival.

Em 1502, Leonardo passou a trabalhar para César Bórgia, filho do papa Alexandre VI, atuando como arquiteto e engenheiro militar, e viajando por toda a Itália com seu patrão; foi nessa viagem que conheceu Nicolau Maquiavel. Retornou a Florença, onde voltou a fazer parte da Guilda de São Lucas, em 18 de outubro de 1503; recebeu a encomenda de um retrato: a Mona Lisa, e passou os dois anos seguintes desenhando e pintando um grande mural da Batalha de Anghiari para a Signoria, enquanto Michelangelo foi responsável pela peça que a acompanhava, A Batalha de Cascina. Ainda em Florença, em 1504, fez parte de um comitê formado para transferir, contra a vontade do próprio autor, Michelangelo, a célebre estátua do Davi.

Em 1506, retornou a Milão. Muitos dos seus pupilos e seguidores mais importantes, no campo da pintura, ou o conheceram ou trabalharam com ele naquela cidade, incluindo Bernardino Luini, Giovanni Antonio Boltraffio e Marco D'Oggione. Seu pai morreu em 1504, e como resultado, em 1507 Leonardo teve de voltar a Florença para resolver com seus irmãos os problemas decorrentes da herança e das propriedades paternas. No ano seguinte, retornou a Milão por solicitação do governador francês Charles d'Amboise, para resolver problemas de trabalhos inconclusos, onde passou a viver em sua própria casa, na região da Porta Orientale, na paróquia de São Bábila. Após mercenários suíços expulsarem os franceses em 1512, Massimiliano Sforza filho de Ludovico, ascendeu ao poder, e Leonardo ficou sem patrono. No ano seguinte foi convidado por Juliano de Médici, filho de il Magnifico, para viajar para Roma, que estava sob o controle do papa Leão X, um Médici.

Últimos anos, 1513 - 1519

Clos Lucé, na França, onde Leonardo viveu seus últimos anos de vida, até morrer em 1519.
De setembro de 1513 a 1516, Leonardo passou a maior parte do seu tempo vivendo no Belvedere, no Vaticano, em Roma, período durante o qual Rafael e Michelangelo também estavam em atividade. Em outubro de 1515, Francisco I da França reconquistou Milão; Leonardo estava presente no encontro entre Francisco I e o papa Leão X, em 19 de dezembro, ocorrido em Bolonha.

Foi de Francisco que Leonardo recebeu a encomenda de construir um leão mecânico, que pudesse caminhar para a frente, e abrir seu peito, revelando um ramalhete de lírios. Em 1516, passou a trabalhar diretamente a serviço de Francisco, e foi-lhe concedido o solar de Clos Lucé, próximo à residência do rei, no Castelo de Amboise. Foi aqui que ele passou os três últimos anos de sua vida, acompanhado por seu amigo e aprendiz, o conde Francesco Melzi, e sustentado por uma pensão que totalizava 10.000 escudos.

Leonardo morreu em Clos Lucé, em 2 de maio de 1519. Francisco havia se tornado um grande amigo; e Vasari relata que o rei segurava a cabeça de Leonardo em seus braços quando este morreu - embora a história, amada pelos franceses e retratada em pinturas românticas de artistas como Ingres e Angelica Kauffmann, possa ser mais lenda do que realidade.

Vasari também conta que, em seus últimos dias, Leonardo teria pedido que um padre lhe fosse trazido, para que se confessasse e recebesse a extrema unção. De acordo com o que pediu em seu testamento, sessenta mendigos seguiram o seu cortejo. Foi enterrado na Capela de Saint-Hubert, no Castelo de Amboise. Melzi foi o principal herdeiro e inventariante, e recebeu, além de todo o dinheiro de Leonardo, todos os seus cadernos, ferramentas, sua biblioteca e seus objetos pessoais. Leonardo também se lembrou de seu antigo pupilo e companheiro, Salai, e de seu criado, Battista di Vilussis; cada um recebeu uma metade das vinhas de Leonardo, sendo que de Salai tornaram-se posses as pinturas que acompanhavam o mestre desde então. Seus irmãos também receberam terras, e sua criada recebeu um manto negro de bom material, com as bordas de pele.

Cerca de vinte anos após a morte de Leonardo, o rei Francisco teria falado, segundo o escultor Benvenuto Cellini: Nunca nasceu no mundo outro homem que soubesse tanto quanto Leonardo, nem tanto [por seus conhecimentos] de pintura, escultura e arquitetura, mas por ele ter sido um grande filósofo.

RELACIONAMENTOS E INFLUÊNCIAS

Florença – contexto social e artístico de Leonardo

Leonardo começou seu aprendizado com Verrocchio em 1466, no ano em que morreu o mestre do próprio Verrocchio, o grande escultor Donatello. O pintor Uccello, cujas experiências com a perspectiva influenciariam o desenvolvimento da pintura de paisagem, já era um homem de idade muito avançada, e os pintores Piero della Francesca e Fra Filippo Lippi, o escultor Luca della Robbia, e o arquiteto e escritor Alberti já estavam em seus sessenta anos de idade. Entre os artistas mais bem sucedidos da geração seguinte estavam, além do próprio professor de Leonardo, Verrocchio, Antonio Pollaiuolo e o escultor Mino de Fiesole, cujos bustos realistas são até hoje as evidências mais confiáveis da aparência real do pai de Lourenço de Médici, Piero, e de seu tio, Giovanni.

Leonardo passou sua juventude numa Florença decorada pelas obras destes artistas, e pelos contemporâneos de Donatello, como Masaccio - cujos afrescos figurativos estavam imbuídos de realismo e emoção, ou de Ghiberti, cujas Portas do Paraíso, folheadas a ouro, mostravam a arte da combinação de composições figurativas complexas com fundos arquitetônicos ricamente detalhados. Piero della Francesca fez um estudo detalhado da perspectiva, e foi o primeiro pintor a fazer um estudo científico da luz. Estes estudos, juntamente com o Trattato de Leone Battista Alberti, teriam um efeito profundo nos artistas mais jovens, e especialmente nas próprias observações e obras de Leonardo.

A Expulsão do Jardim do Éden, de Massaccio, mostrando Adão e Eva nus e transtornados, abandonando o Jardim do Éden, criou uma imagem tremendamente expressiva da forma humana, representada em três dimensões através do uso de luz e sombra - algo que seria desenvolvido nas obras de Leonardo a ponto de influenciar a história da pintura a partir de então. As influências humanistas do Davi de Donatello podem ser vistas nas pinturas da velhice de Leonardo, em especial o São João Batista.

Uma tradição recorrente em Florença era a de pequenos retábulos retratando a Virgem e o Menino. Muitos eram feitos em têmpera ou terracota vitrificada, pelos ateliês de Filippo Lippi, Verrocchio e da prolífica família della Robbia. As primeiras madonas de Leonardo, como A Virgem do Cravo e Virgem Benois seguiram nesta tradição, embora mostrassem diferenças idiossincráticas, especialmente no caso da Virgem Benois, na qual a Virgem está retratada num ângulo oblíquo ao espaço do quadro, com o Menino Jesus num ângulo oposto. O mesmo tema reapareceria em diversas pinturas posteriores de Leonardo, como A Virgem e o Menino com Santa Ana.

Leonardo foi contemporâneo de Botticelli, Ghirlandaio e Perugino, embora fossem um pouco mais velhos que ele. Teria conhecido todos no atelier de Verrocchio, com quem eles tinham ligações, e na Academia dos Médici. Botticelli era especialmente preferido pela família Médici, e seu sucesso como pintor era praticamente garantido. Ghirlandaio e Perugino eram prolíficos, e também geriam grandes ateliês; foram responsáveis por comissões realizadas com competência, para patronos satisfeitos, que apreciavam a habilidade de Ghirlandaio de retratar os cidadãos ricos de Florença em grandes afrescos religiosos, e a habilidade de Perugino em criar multidões de santos e anjos de inescapável doçura e inocência.

Estes três estavam entre os que foram comissionados para pintar as paredes da Capela Sistina, no Vaticano, obra que havia sido iniciada por Perugino em 1479. Leonardo não fez parte desta comissão de prestígio; sua primeira encomenda significante, a Adoração dos Magos, para os monges de Scopeto, nunca foi terminada.

Em 1476, durante o período em que Leonardo esteve ligado ao atelier de Verrocchio, o pintor flamengo Hugo van der Goes chegou em Florença, trazendo o Retábulo de Portinari e as novas técnicas de pintura do Norte da Europa que afetariam profundamente os pintores florentinos do período. Em 1479 o pintor siciliano Antonello da Messina, que trabalhava exclusivamente com óleos, viajou para o norte, em direção a Veneza, onde o principal pintor da cidade, Giovanni Bellini, também adotara a técnica da pintura a óleo, transformando-a rapidamente na técnica preferida do local. Leonardo também visitaria Veneza algum tempo depois.

Como dois arquitetos contemporâneos, Bramante e Antonio da Sangallo, o Velho, Leonardo experimentou com projetos para igrejas planejadas centralmente, diversas das quais aparecem em seus diários, tanto em plantas quanto vistas - embora nenhum destes projetos tenha chegado a ser posto em prática.

Os contemporâneos políticos de Leonardo foram Lourenço de Médici (il Magnifico), três anos mais velhos que ele, e seu popular irmão mais novo, Juliano, morto na Congiura dei Pazzi de 1478. Ludovico Sforza (il Moro), que governou Milão entre 1479 e 1499, período durante o qual Leonardo foi enviado como embaixador em nome da corte dos Médici, também tinha aproximadamente a mesma idade.

Juntamente com Alberti, Leonardo passou a frequentar o lar dos Médici, e através deles conheceu filósofos humanistas como Marsilio Ficino, proponente do neoplatonismo, Cristoforo Landino, autor de comentários sobre os escritos da Antiguidade Clássica, e João Argyropoulos, professor de grego e tradutor das obras de Aristóteles. Outro contemporâneo de Leonardo que também teve seu nome associado à Academia dos Médici foi o jovem e brilhante poeta e filósofo Pico della Mirandola. Leonardo escreveu mais tarde, na margem de um de seus diários: "Os Médici me fizeram, e os Médici me destruíram". Embora tenha sido através de Lourenço que Leonardo receberia importantes trabalhos em Milão, não se sabe o que ele quis dizer exatamente com este comentário críptico.

Embora costumem ser agrupados como os três gigantes do Alto Renascimento, Leonardo, Michelangelo e Rafael não pertenceram à mesma geração. Leonardo tinha vinte e três anos quando Michelangelo nasceu, e trinta e um no nascimento de Rafael, este último teve uma vida curta, morrendo em 1520, no ano após a morte de Leonardo; já Michelangelo continuou criando por mais 45 anos.

Vida pessoal

Ao longo da vida de Leonardo, seu extraordinário poder de inventividade, sua "espetacular beleza física", "graça infinita", "grande força e generosidade", "espírito régio e tremendo alcance mental", como foram descritos por Vasari, atraíram a curiosidade daqueles que o cercavam. Diversos autores especularam sobre os vários aspectos da personalidade de Leonardo; um deles, a sua adoção de éticas e práticas pessoais, que podem ser ocasionadas de sua crescente admiração pela natureza e suas criaturas, como pode ser exemplificado por seu vegetarianismo e o hábito, descrito também por Vasari, de comprar pássaros engaiolados e libertá-los.

Leonardo teve muitos amigos que se tornaram profissionais renomados em seus campos, ou que são célebres até hoje por sua importância histórica. Entre eles está o matemático Luca Pacioli, com quem ele colaborou num livro na década de 1490, assim como Franchinus Gaffurius e Isabella d'Este, a grande dama do Renascimento. Com a exceção desta última, Leonardo parece não ter se relacionado intimamente com mulheres. Isabella foi retratada por ele durante uma viagem que levou-os a Mântua; o retrato teria sido usado como rascunho para uma pintura, que já não existe mais.

Além de suas amizades, Leonardo mantinha sua vida privada em segredo. Sua sexualidade foi alvo frequente de estudos, análises e especulações. Esta tendência já se tinha iniciado no meio do século XV, e tomou novo ímpeto nos séculos XIX e XX, especialmente a partir de Sigmund Freud.

Assistentes e pupilos

Os relacionamentos mais íntimos de Leonardo foram com seus dois pupilos, Gian Giacomo Caprotti da Oreno, apelidado Salai ou il Salaino ("pequeno diabo" na gíria da época), que entrou para o seu convívio familiar em 1490. Depois de apenas um ano, Leonardo fez uma lista de suas contravenções, chamando-o de "um ladrão, um mentiroso, teimoso, e glutão", depois de ele ter roubado dinheiro e objetos de valor em pelo menos cinco ocasiões, e gastar uma fortuna em roupas. Ainda assim, em seus primeiros anos, os cadernos de Leonardo contêm diversas pinturas do estudante, que permaneceu como parte da família de Leonardo pelos trinta anos seguintes. Salai também fez uma série de pinturas, sob o nome de Andrea Salai; embora Vasari tenha alegado que Leonardo "ensinou-lhe muito sobre pintura", sua obra é geralmente considerada como tendo um mérito artístico menor do que outros pupilos de Leonardo, como Marco d'Oggione e Boltraffio. Em 1515 Salai pintou uma versão nua da Mona Lisa, conhecida como Mona Vanna. O próprio Salai era proprietário da Mona Lisa na ocasião de sua morte, em 1525, e em seu testamento ela foi estimada em 505 liras, um valor excepcionalmente alto para um pequeno retrato.

Em 1506 Leonardo acolheu outro pupilo, o conde Francesco Melzi, filho de um aristocrata da Lombardia. Melzi, estudante predileto de Leonardo, viajou com o tutor para a França, onde esteve ao seu lado durante todo o fim de sua vida. Com a morte de Leonardo, Melzi herdou as coleções, manuscritos e obras artísticas e científicas de Leonardo, patrimônio que ele administrou fielmente a partir de então.

FURNARI

Liggenda da nascita di Furnari

    
"FURNARI" - Stemma di famiglia - Araldica.

Si racconta che un giorno Ruggero II d’Altavilla insieme al suo inseparabile Levriero si trovavano in una battuta di caccia nella zona oggi denominata Furnari. Un arciere maldestro ferisce gravemente il cane. Nonostante tutti i tentativi di soccorrerlo, la ferita del povero animale continuava a sanguinare. Fortuna volle che nelle vicinanze dell’accaduto si trovava l’umile abitazione di un contadino di nome Antonio Furnari. Questi, senza sapere chi fosse, rispose immediatamente alla richiesta d’aiuto del Re. Mise a disposizione i pochi beni che possedeva, bende, acqua, olio; lavò la ferita e la fasciò.

Il cane però non poteva ancora muoversi e il Re non poté fare altro che affidarlo al contadino, promettendo che un giorno sarebbe tornato a riprenderlo.

Presto il cane guarì, ma i mesi passavano e il suo padrone non tornava. Il povero contadino, deriso da tutti, non mangiava pur di sfamare lo splendido Levriero. Ma era deciso a mantenere la parola data, avrebbe tenuto il cane con sé "finché venga".

Un giorno, d’improvviso, annunciato da squilli di trombe, il Re tornò e, colpito dalla fedeltà del contadino, lo nominò barone, donandogli le terre che oggi costituiscono il Comune di Furnari.

Il suo stemma sarebbe stato un cane in campo rosso con la scritta “Finché Venga”.

Fin che venga

“Un can d’argento aver vuole Oliviero,
che giacca e che la lassa abbia sul dosso,
con un motto che dica: Fin che venga”

L. Ariosto, Orlando Furioso,
Canto XLI, 30

O randi Ariostu, portimi ca mani:
vogghiu ‘a liggenda ‘i Furniri cantari,
Ruggeru, Ntoni Furniri e ddu cani,
chi ‘u re nurmannu ci vosi lassari,
da fidiltà di tempi ora luntani
quandu a lu diri rispundia lu fari.
Cosa chi nta l’Orlandu tu cantasti
e tanta gloria ê furnaroti dasti.

          Dimmi du iornu tantu vinturusu
          quandu Ruggeru cu certi so amici
          a caccia si ndi ìa facendu usu
          d’arcu e di fricci pi nostri pindici.
          ‘U postu era assà riccu, ginirusu
          di lepri, di cunigghia e di pirnici,
          ricriava ‘u cori ‘i cu vulia vardari
          ‘u panurama cu sfundu du mari.

‘Bedda è ‘a terra di Furnari: se vivu,
o randi Ariostu, cca fussi vinutu,
‘u mundu non sarria astura privu
di n’autru cantu to d’oru vistutu:
natura chi cca tutta si sprimiu
pi dari a so biddizza a nostru aiutu,
pigghiò Ruggeru ed ‘u firmò ncantatu
e ci fici tratteniri lu sciatu.

          I cani intantu, fermi i cacciaturi,
          di ‘na sipala all’autra firriavunu,
          nto menzu ci nd’dera unu ‘i gran valuri
          di cui razza e prugenii si vantavunu,
          caru o re comu un sciuri d’amuri
          chì tutti i valintizzi ‘u mmaistravunu:
          trasìa nte spini arditu a manu dritta
          e niscìa a manca comu ‘na saitta.

Fu d’accussì chi ‘na lepri nguniata
nta ‘na sipala dda undi trema e scuta,
schizzò fora du cani ssiutata
e ruzzolò du scantu nta scinduta:
un arcieri, chi visti ‘a rumbuliata,
scuccò ‘a friccia du distinu vuluta:
pa troppa prescia cci trimaru i mani
ed inveci da lepri pigghiò ‘u cani.

          ‘A friccia si ziccò dintra ‘a carina
          di dda povira bestia e mpinduliò,
          nira nta ll’occhi ci calò ‘a fulina,
          i iambi si nghicarunu e cascò,
          ‘u re chi visti subitu ‘a ruina
          misi i mani è capiddi e iastimò,
          curriu undi ‘u cani,su pigghiò nte brazza,
          nnarbò di sangu tonica e curazza.

‘U sangu non stagghiava, di strazzati
cammisci a tampunari fu misteri:
ma neti ci putia,l’occhi vilati
dill’animali davunu pinseri.
Chi fari? Erunu tutti dispirati
quandu, vardandu arreri d’un sinteri,
unu visti un viuleddu chi trasìa
nto boscu e nta ramagghia scumparia.

          -“Andamu pi ‘stu violu”- dissi ‘u re-
          “a carchi parti certu avi a purtari,
          forsi ddarreri carchi casa c’è
          e carcadunu chi ndi po’ jutari,
          forza, livamundi ‘i cca: undi iè iè
          amu a truvari fasci pi fasciari:
          ‘u cani mori dissanguatu, andamu,
          circamu genti e ‘u rimediu truvamu”.

Ed accussì si misuru ncaminu
‘u re in testa ch’avia nte brazza ‘u cani,
l’autri ci ievunu appressu di vicinu
e a susteniri ‘u re davunu mani;
‘u violu nchianava (ed ‘u distinu
di Furniri primia): dintra i so tani
i cunigghia o rumuru si zziccavunu,
supra, nte rami, aceddi sbulazziavunu.

          E camina camina, fin armenti
          si iapriu un chianu undi ‘na casa stava
          fatta di petri, di mautu e di stenti
          chi quasi quasi già si sdirrupava,
          dda di latu sutta ‘u suli cucenti
          ci stava un cristianeddu chi zappava:
          era ‘u zzu Ntoni Furniri cu ventu
          di la Storia nvistia nta ddu mumentu.

Iddu visti dda genti furistera
e ci ivu ncontru tuttu primurusu
cu ‘n’accuglienza nobbili e sincera,
visti ‘u cani ch’avia ddu gran purtusu
supra ‘a schina ed ‘u pusò supra un bisolu,
trasiu intra e nisciu cun linzolu.
O biniditti ddi tempi luntani
Duviziusi d’amuri e curtisia

          Chi ll’omini facivunu cchiù umani!
          Biniditti ddi tempi: si ricivia
          l’ospiti  a cori apertu e si un dumani
          iddu un bisognu, un desideriu avia,
          si cuntintava pronti a chini mani.
          Oggi ahimè di ddu cumpurtamentu
          puru ‘a simenza si spirdiu a lu ventu.

‘U zzu Ntoni Furniri, pi quantu
chiddu sulu lenzolu avia into nto lettu,
‘u strazzò senza mi ci pensa tantu
e fici fasci: né sapia chi appettu
avia ‘u re, ma ch’è un onuri e vantu
dari non sulu simplici rispettu,
ma ogni pussidimentu, ogni so beni
senza nuddu vantaggiu mi ndi veni.

          Lavò cull’acqua dda firita o cani,
          niputedda pistò, supra ccia misi,
          nfasciò meghiu chi potti, chi so mani
          ‘u re stirava i fasci beddi tisi;
          stritti attornu tutti l’autri cristiani
          suggiriunu u vuliunu essiri ntisi.
          Però ‘u cani fasciatu si lagnava,
          misu dda nterra addritta non parava.

E intantu ‘u re si ndavia a ghiri, affari
du regnu già ‘u chiamavanu luntanu
e ‘u cani appressu non putia purtari
nta ddu statu riduttu: a manu a manu
chi ci pinsava si sintia sirrari
du dispiaceri ‘u cori, ma era vanu
autru risurvimentu: non ristava
chi lassari ‘u cani undi si truvava.

          E allura chiamò ‘u zzu Ntoni e ci parrò:
          -“Senti,”- ci dissi- “amu a pàrtiri all’istanti,
          ‘u tempu ch’avia libbiru passò:
          ti lassu ‘u cani, curulu custanti,
          tenulu bonu , megghiu chi tu po’,
          di certu un ghiornu vicinu o distante
          tornu chi me cumpagni cca a pigghiari
          chista bestia e pirciò tu ma spittari”.

‘U zzu Ntoni Furniri prumittiu:
‘u re ê cumpagni ci fici un signali
e subitu cu iddi appressu si ndi ìu
spirendu arreri all’arbiri e i supali.
Ristò ‘u zzu Ntuneddu cu disiu
di sapiri chi genti era e di quali
terra vinia e poi pinsò chi quando
parrava ‘u furisteri era un cumandu.

          Cosa strana. E intantu ncoddu avia
          ddu cani chi iornu e notti avia a curari,
          ma ‘a prumissa è prumissa, non putia
          fari in modu diversu chi mpuzzari:
          ‘u bruttu era chi finu a chi tinia
          d’animali ciavia dari a manciari
          e iddu era paureddu e tira e stira
          manciava sì a menziornu e non ‘a sira.

‘U cani stesi bonu, o gran buntati
Da niputedda chi beni facia,
si avissi statu ad oggi chi pumati
forsi chi forsi ‘u cani ci muria,
in giru sempri pi tutti i cuntrati
a ssiutari cunigghia si ndi ìa,
ma all’ura di manciari l’animali
era sempri prisenti e puntuali.

          E passavanu i iorna ed i sumani,
          i misi e ‘u so patruni non turnava,
          sempri ‘u zzu Ntoni spirava a un dumani,
          ‘n’autra iurnata chi denti tirava;
          pinsava sempri a ddu diavulu ‘i cani
          chi scumparia, cumparia e manciava
          cchiù d’un omu ed era mali bituatu
          chì pani schittu mai ndavia ssaggiatu.

E spetta e spetta, ma undi si ndavia iutu
ddu furisteri ca so compagnia?
E diri chi ci avia dittu e ripitutu
chi un iornu o l’autru di certu vinia;
un cumpagnu du zzu Ntoni vinutu
a truvarlu dicia: -“ Spetti ‘u Missia?
Chiddu non torna, non c’eni iautru ‘i fari 
vindiri ‘u cani e pigghiarsi i dinari.”

          No. ‘’U zzu Ntuneddu Furniri era ‘i chiddi
          chi si dici manteni, mori ‘i stenti,
          strinci ‘a cinta,s’impigna li capiddi,
          ma iavi tuttu d’onuri i sentimenti.
          Spittò a scornu e dispettu ‘i tutti chiddi 
          chi su sfuttivunu cuntinamenti,
          spittò fidili alla parola data
          finu chi l’arma so fu cunsulata.

Infatti un ghiornu du boscu rivò
sonu di trumbi,un rumuri di tanti
genti ncaminu ed ‘u cani baiò.
Tra l’arbiri spuntò un stindardu, avanti
già nto chianu, ‘na gran squatra avanzò
d’omini armati cu passu pisanti.
Nto menzu l’aspittatu furisteri
c’un mantu d’oru ed i paggi darreri.

          ‘U re! Ntuneddu Furniri sturdiu,
          si nghicò nta n’inchinu ddu e tri voti
          e comu ‘u ventu ncontru ci curriu.
          ‘U cani già facia li giravolti
          attornu o so patruni chi finiu 
          mu pigghia ncoddu mu mbrazza mu scoti.
          Era cuntentu filici e biatu
          comu se ‘n’autru avia truvatu.

Dissi Ntuneddu Furniri –“Cunsignu
‘u cani chi lassasti, ti spittà”.
‘U re ‘u vardò pinsirusu e binignu:
cunsidirava ‘a randi puvirtà
di dd’omu tantu ginirusu e dignu
chi mantinia ‘a parola in fidiltà.
-“Nginocchiti,”- ci dissi- “cca,dda nterra”.
e nisciu ‘a spata furmini di verra.

          Poi lentu e sulenni ccia mpuiò
          supra ‘a spadda, si fici ‘a santa cruci
          e a tistimoni l’araldi chiamò.
          Quindi, mputenti, ca cchiù iauta vuci,
          dissi: -“Nto nomi di Diu da ora in po’,
          iò ti fazzu baruni: chi la luci
          di Diu ti porti sempri in salvazioni
          e mi ti duna ogni binidizioni.

‘Sta cuntrata undi stai, tra i terri accantu
Rancia e Ranciotta, cu me assimtimentu,
eni a to e pi to fama onuri e vantu
ti dugnu un stemma c’un cani d’argentu
e ‘u mottu FIN CHE VENGA, sacrusantu
a virità du to cumpurtamentu”.
Dissi e ‘u zzu Ntoni Furniri mbrazzò
e cu tutta ‘a so genti si nn’andò.

          O postu di dda casa malandata
          Surgiu un casteddu ch’ebbi pi cuntornu
          casi a casitti; si furmò ‘na strata
          e un paisi nascìu di iornu in iornu.
          Si chiamò Furniri: ‘a terra disboscata
          Sempri cchiù s’allargò tutta d’attornu:
          vigni, luvari, simineri e frutti
          ebbiru vita cu travagghiu ‘i tutti.

‘U paisi crisciu, l’anni passaru,
eventi leti e tristi succideru,
i so abitanti sempri travagghiaru,
ginirazioni naceru e mureru.
Sempri tutti ddu stemma ebbiru caru
e beddu iautu ‘u so onuri sustineru,
tantu chi oggi lu nostru gunfaluni
porta ddu stemma a gloria du Cumuni.

          Porta ddu stemma pirchì li valuri
          du spiritu su forti e sempiterni,
          pirchì l’esempiu d’un omu d’onuri
          ‘u populu sustenti e lu guverni,
          pirchì storia e liggenda cu firvuri
          ficiru un faru pi tempi muderni
          di fidiltà e di gloria risplendenti
          mi servi ê furnaroti e all’autri genti.


Felice Conti