29 fevereiro 2012

TODAS AS EXPLOSÕES ATÔMICAS (Parte 1) / ALL NUCLEAR EXPLOSIONS (Part 1)

Mapa com todas as explosões nucleares, entre testes e ataques realizados no mundo.

Mapa de todos os testes e ataques nucleares realizados entre 1945 e 2006 no mundo. Clique na imagem para ampliar e estudar o mapa.
O mapa mostra todos os testes e ataques nucleares desde "TRINITY" (TRINDADE) a primeira bomba atômica do mundo concebida pelo "MANHATTAN PROJECT" (PROJETO MANHATTAN) dos Estados Unidos em 1945 e explodida em seu próprio território no Novo México, até os testes nucleares da Coréia do Norte em 2006. Foram milhares de explosões nucleares executadas.
No mapa há uma tabela que informa os totais de explosões por país, e quais foram os tipos de explosões executadas: "Underground" (abaixo do solo), "Underwater" (sob a água), ou "Atmospheric" (ao ar livre).

(1)  (2)
(1) Gráfico com os totais de bombas detonadas por países.
(2) O mesmo gráfico com os totais de bombas detonadas por países, mas com o eixo vertical em escala logarítmica (na base 10) para facilitar a visualização.

Os 2 únicos ataques nucleares da história com as bombas de fissão nuclear "LITTLE BOY" (PEQUENO RAPAZ) e "FAT MAN" (HOMEM GORDO) foram feitos contra o Japão respectivamente nas cidades de Hiroshima e Nagazaki em 1945 durante a Segunda Guerra Mundial (esse foi o resultado prático do "MANHATTAN PROJECT"). Os ataques são exibidos com dois círculos azuis, exatamente de acordo com a escala de quilotons no mapa, e como "atmospheric attacks" (ataques atmosféricos).
De todas, a maior explosão nuclear da qual temos notícia, foi o teste feito com a "Царь-бомба" (TSAR BOMBA - BOMBA REI), uma Bomba-H (bomba de fusão de hidrogênio) detonada pela União Soviética em 1961 e estimada em 57 megatons de TNT (57.000.000 de toneladas de TNT, ou 57 milhões de toneladas de dinamite). A bomba explodiu na Baía de Mityushikha ao norte do Círculo Polar Ártico, na ilha de Nova Zembla, também território soviético. A explosão foi vista na Finlândia!

28 fevereiro 2012

AYRTON SENNA POR ALAIN PROST

Amores e ódios à parte, todo admirador de Ayrton Senna com verdadeiro conhecimento do automobilismo deve concordar que Alain Prost foi um dos maiores pilotos de todos os tempos. O único que, com carros idênticos, era capaz de ser tão rápido quanto o brasileiro, mesmo tendo um perfil de pilotagem completamente diferente.

Ayrton Senna e Alain Prost em 1986.

Em 1998, quatro anos após a morte de Ayrton, Prost pela primeira vez falou sobre a pessoa que se tornou seu maior inimigo. É o tipo de entrevista fundamental para um exercício um tanto difícil no Brasil: entender melhor o outro lado, sem procurar heróis ou vilões.
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“Sinceramente, para mim é muito difícil falar sobre Ayrton, e não apenas porque ele não está mais entre nós. Ele era tão diferente, sabe, tão completamente diferente de qualquer outro piloto – qualquer outra pessoa – que eu já conheci…
Conversando agora, mais de quatro anos após a morte de Ayrton Senna, Alain Prost está em uma posição desagradável. Por muito tempo os dois estiveram ligados. Indiscutivelmente os melhores pilotos de sua geração, um era basicamente o único inimigo do outro. Sendo assim, ao debater sobre Senna, Prost não pode vencer, e sabe disso. Se disser apenas palavras gentis, alguns dirão que seu tom era completamente diferente quando Ayrton vivia; se for pelo caminho inverso, todos o crucificarão por se atrever a criticar um ícone que não pode se defender.
“É por isso que sempre me recusei a falar sobre ele” disse Prost. “Quando ele morreu, disse que senti que uma parte de mim havia morrido também, porque nossas carreiras estavam tão interligadas. E realmente quis dizer aquilo, mas sei que algumas pessoas não acharam que fui sincero. Bem, tudo o que posso fazer é tentar ser o mais franco possível”.
Desde o começo da carreira de Ayrton Senna na Fórmula 1, em 1984, sua mira estava fixa em Prost. De certa forma era inevitável, já que Ayrton era um homem de uma intensidade extraordinária, alguém que precisava provar ser o melhor em todas as coisas, e naquela época Alain era a referência. Seu primeiro encontro definiu o tom de sua relação no decorrer dos anos.
“Eu me lembro bem. Na primavera de 1984, a nova Nürburgring foi inaugurada, e houve uma corrida de celebridades para pilotos da época e do passado, em carros de rua da Mercedes. Eu fui de Genebra a Frankfurt em um voo comercial, e Ayrton chegaria meia hora depois, então Gerd Kremer da Mercedes me pediu para que o trouxesse à pista. No caminho conversamos, e ele foi bem agradável. Chegamos então à pista, e treinamos nos carros. Fui pole, com Ayrton em segundo – depois disso ele não mais falou comigo! Parecia engraçado na época. Então na corrida, assumi a liderança – e ele me empurrou para fora da pista depois de meia volta. Então acho que foi um bom começo”.
Aquele ano, 1984, foi o primeiro de Senna na F1, e seu Toleman-Hart não estava à altura do pelotão da frente. Em Mônaco, no entanto, choveu, e quando a corrida foi encerrada, pouco antes de completar metade das voltas previstas, o novato estava prestes a tomar a liderança da McLaren de Prost.
“Desde o começo ele parecia bom, apesar de que nunca se pode ter certeza quando se está em uma equipe pequena. Ele fez uma grande prova em Mônaco, mas na época – quando os chassis eram bem menos rígidos do que agora – era possível ver um carro que se saia mal no seco correr bem no molhado. Claro que todos nós ficamos impressionados, mas com a ressalva de que às vezes um jovem piloto parece bom, mas então se junta a uma grande equipe, e parece medíocre. Sempre há essa dúvida até que o piloto consegue um carro veloz. Com Ayrton, no entanto, ficou bem claro que ele tinha um talento especial.”
Outra coisa que todos deveriam lembrar é que, há quase 30 anos atrás (considerando fevereiro de 2012), havia muito mais pilotos muito bons na F1 do que hoje. Claro que Ayrton foi bem desde o começo, mas ele não mostrou nada que fosse realmente excepcional antes de Mônaco. Mônaco foi o começo: depois daquilo todos o descobriram, e começaram a falar dele. Sem isso, talvez demorasse um pouco mais, mas a coisa que impressiona, como eu digo, foi que ele parecia tão bom em uma época com tantos bons pilotos…
Senna desde o começo não mostrou muito apreço por reputações, e isso aborreceu muitas das estrelas da época. Depois de uma única temporada na Toleman, ele foi para a Lotus-Renault em 1985, venceu de forma brilhante o Grande Prêmio de Portugal (sob chuva), e esteve consistentemente nos pelotões de ponta. Mas em Hockenheim, por exemplo, ele cometeu um erro na Ostkurve, e quando Michele Alboreto foi ultrapassá-lo, Ayrton ziguezagueou à sua frente para não ser ultrapassado. Na época esse tipo de manobra não era bem vista pela comunidade da F1.
Hmmm, sim, Senna era firme assim, desde o começo. Na verdade, uma coisa na qual acredito agora é que não era tanto uma questão de ser durão tanto quanto ter suas próprias regras. Ele as tinha, acreditava nelas, e era isso.”
“Ele era extremamente religioso, e costumava falar sobre isso, sobre falar a verdade, sobre sua educação, sua criação e tudo mais. Na época, eu costumava acreditar que algumas das coisas que ele fazia na pista não condiziam com tudo aquilo, mas agora me parece que ele realmente não sabia que estava errado. Como disse, ele tinha essas regras, as seguia e não se interessava no resto. Olhando agora, eu realmente acho que ele acreditava estar sempre certo, sempre dizendo a verdade – e na pista era a mesma coisa.”
Não foi, no entanto, até Senna se tornar colega de Prost, em 1988, que começaram os problemas entre eles. Um ano antes, a Lotus usou motores Honda, e Ayrton estabeleceu uma forte relação com os engenheiros japoneses. Além de sua chegada à McLaren, os japoneses chegaram também. E uma fonte na equipe definiu assim a situação: “Costumavam enxergar Prost como um piloto da McLaren com motor Honda, e Senna como um piloto Honda com chassi McLaren.”
“Sim, me parece uma boa definição. Meu maior problema foi que eu realmente amava a McLaren, e queria fazer de tudo pela equipe. Para meu colega em 88, as opções eram Senna e Piquet. Quando fui ao Japão com Ron (Dennis), para encontrar o pessoal da Honda, eu disse que Ron deveria optar por Ayrton, porque ele era um piloto mais talentoso, e para mim a equipe vinha em primeiro lugar. Se eu pudesse voltar agora para o início de minha carreira, eu teria a feito de forma diferente – me concentraria em mim e em meu trabalho”.
“Por sinal, eu poderia ter dito não à chegada de Ayrton na McLaren. Um ponto forte que tenho é que normalmente quando decido algo, não me arrependo, mas, no meu ponto de vista atual, naquele momento certamente cometi um erro”.
No primeiro teste de pré-temporada que fizeram juntos, no Rio, Prost viu que Senna não estava ali para brincadeira. “Estávamos testando os pneus, usando apenas um carro. Fui à pista primeiro, para depois ele assumir o volante. Fui aos pits, e os mecânicos começaram a trocar as rodas. Pude ver Ayrton ali, com o capacete, apressado, esperando que eu saísse, então decidi ficar no carro um pouco mais. E ele ficou furioso, dizendo a todos, ‘não é justo, não é justo!’ Então sai, e comecei a rir. Ele não…

“Na verdade, nossa relação de trabalho na primeira temporada foi boa. O único problema foi em Estoril, no final da primeira volta.”
Foi um momento que nunca será esquecido por aqueles que o presenciaram. Na reta dos boxes Prost pegou o vácuo de Senna, então abriu para a ultrapassá-lo, quando Ayrton jogou o carro em sua direção, o deixando talvez a cerca de 15 centímetros do muro dos pits. Alain não tirou o pé, e tomou a liderança que perduraria até a bandeirada, mas logo depois dela deixou claro o que pensava.
“A manobra em Estoril foi muito perigosa, e sim, depois eu fiquei furioso. Eu estava praticamente no muro, e realmente achei que iríamos nos tocar, e ter um grande acidente – com todo o pelotão logo atrás de nós. Não gostei nem um pouco, e disse isso a ele, mas, de certa forma, não o posso culpar pelo que fez, porque ele nunca teve problemas com isso. Quantas vezes em sua carreira na Fórmula 1 Ayrton foi punido por aquele tipo de coisa? Nunca.”
“Mas, fora isso, o primeiro ano não foi ruim. Em algumas ocasiões ele foi rigoroso comigo, mas não tivemos outros problemas. E, por sinal, ele me pediu desculpas pelo que aconteceu em Portugal.”
A dupla teve uma temporada sensacional em 1988. Prost marcou mais pontos (105, com sete vitórias e sete segundos lugares) que Senna (94, com oito vitórias e três segundos), mas Ayrton faturou o mundial de pilotos, 90 pontos contra 87, graças à regra na época, que considerava apenas os 11 melhores resultados.
“No final de 88 eu estava bastante satisfeito pela equipe – fomos primeiro e segundo no campeonato, e não estava tão chateado por ele ter faturado o título; eu já o havia conquistado duas vezes naquela época, não foi um problema.”
“Em 89, no entanto, estava preocupado com a Honda. E acho que meu maior problema foi que eu nunca tive com eles a relação que Ayrton teve. Desde o começo, era algo sobre o qual eu nunca senti que tinha o controle. Eu nunca me preocuparia tanto se eles simplesmente preferissem um dos pilotos da equipe – mas a maneira como lidaram com a situação foi muito difícil para mim, porque Senna e eu tínhamos estilos de pilotagem bem diferentes.”
“Eu nunca entendi porque a Honda tomou tanto seu partido. Não era uma questão do mercado de automóveis no Brasil ou o francês, ou coisa assim. Era algo mais humano. Trabalhei com a Honda novamente no ano passado [1997] – desta vez como dono de equipe – e notei isso novamente: acho que os japoneses simplesmente trabalham diferente. Em uma equipe, eles sempre favorecem alguém em relação aos outros. Já ouvi isso sobre suas equipes de motociclismo também.”
“Deixe me dar um exemplo. Em certo ponto durante 88, o último ano em que usamos turbos, pedi algumas mudanças específicas no motor para combinar com meu estilo de pilotagem e trabalhamos nisso durante dois dias em Paul Ricard. Ao final do teste fiquei bastante satisfeito – mas na corrida seguinte, uma semana depois, não deixaram que eu usasse a estratégia em meu motor.”
“Fomos então para o Grande Prêmio Francês – em Ricard – e de repente o motor estava como eu queria! Entende o que eu digo? Ayrton e eu competimos juntos por duas temporadas com os McLaren-Hondas, e em ambos os Grandes Prêmios da França eu fui pole e venci a prova. Todos diziam, ‘Veja, é Prost vencendo em casa’, esse tipo de coisa. Não foi nada disso; foi que nessas corridas eu tive algo que me permitiu brigar…”
“Entenda bem, não é nada contra Ayrton, ok? Ayrton era muito rápido, e durante os treinos de classificação ele era muito melhor do que eu – muito mais comprometido, assim como eu acho que era na minha época de piloto mais jovem da equipe, contra Niki (Lauda).”
“Enfim, antes da temporada 89 eu jantava no golf club em Genebra com o então presidente da Honda, Sr. Kawamoto e outras quatro pessoas. E ele admitiu que eu estava certo em acreditar que a Honda estava mais por Ayrton do que por mim.”
“Ele disse, ‘Você quer saber por que apoiamos tanto Senna? Bem, não posso estar 100 por cento certo.’ Mas uma coisa que ele me disse foi que a nova geração de engenheiros trabalhando nos motores estava a favor de Ayrton, porque ele era mais um samurai, e eu era mais um computador.”
“Então, aquilo era uma explicação, e eu fiquei satisfeito, porque então eu pelo menos sabia que algo não estava correto. Parte do meu problema foi que Ayrton era tão rápido, e não era fácil saber o quanto isso vinha dele, e quanto era a ajuda da Honda. Então depois desse jantar com o Sr. Kawamoto, eu pensei, ‘Bem, pelo menos não sou estúpido – algo realmente acontecia, e agora entendia a situação.’”
Mesmo assim, a situação não iria melhorar. Muito pelo contrário, por sinal. Em 1989, a frágil relação entre Prost e Senna se esfacelou, e a que existia entre Alain e a McLaren não estava muito melhor.
“Até então, eu nunca tivera problema algum com qualquer um na McLaren, mas 89 foi diferente. Meu contrato estava para terminar ao final do ano, mas o de Ayrton não. Ron sabia que o futuro de sua equipe estava com a Honda – logo, com Senna. Ele tentou me convencer a ficar, mas na realidade não podia manter nós dois, e eu lhe disse em julho que sairia ao final da temporada. Em minha opinião, ele não foi justo comigo em 89. Ainda somos bons amigos, e, apesar de tudo, ainda penso na McLaren como a minha equipe. Mas Ron sabe minha opinião sobre aquela época.”
“Naquele período, estava completamente desiludido, Depois de tudo o que eu havia feito com a equipe, e pela equipe, eu não achava que poderia ser tratado daquela forma. Mas no final das contas, você sabe, Ron tentava levar sua equipe adiante, e claro que posso entender isso.”
Em Ímola, a maior rivalidade no automobilismo foi semeada. Senna e Prost, como sempre, classificaram na primeira fila, um segundo e meio à frente do resto, e Ayrton sugeriu que não colocassem em risco a prova em uma briga na primeira curva, Tosa, da primeira volta: quem quer que chegasse primeiro nela manteria a liderança. Alain concordou. Na largada, Senna assumiu a liderança, e na Tosa, Prost se manteve atrás.
No entanto, a corrida foi interrompida quando Gerhard Berger sofreu um grave acidente. Na relargada, foi Prost que tomou a ponta – mas na Tosa, Senna a recuperou.
“Mais tarde, ele argumentou que não era a largada – era a relargada, então o acordo não se aplicava. Como eu disse, ele tinha suas próprias regras, e algumas vezes elas eram muito… bem, vamos dizer estranhas. Foi ideia de Ayrton, para início de conversa, e eu não tinha problemas com ela. Depois, no entanto, eu disse que era o fim; continuaria a trabalhar com ele, em assuntos técnicos, mas no que se referia à nossa relação pessoa, era o fim. E a atmosfera na equipe ficou muito ruim, claro.”
Quando chegamos a Monza, eu estava à frente dele no campeonato, por cerca de 10 pontos. Mas aquela corrida. Foi o verdadeiro fundo do poço entre a McLaren e eu. Senna tinha dois carros, com 20 pessoas ao seu redor, e eu tinha apenas um carro, com talvez quatro ou cinco mecânicos trabalhando por mim. Eu estava absolutamente só, em um canto da garagem, e esse foi talvez o mais duro final de semana da minha carreira automotiva. A Honda estava pegando pesado comigo na época, e era difícil tentar lutar pelo campeonato naquela situação. Na prática, Ayrton era quase dois segundos mais rápido do que eu – ok, eu disse, ele certamente se classificava melhor do que eu, mas dois segundos? Aquilo era uma piada.”
Na corrida, no entanto, Senna abandonou, e Prost venceu; quando se dirigiram para Suzuka e Adelaide, as duas últimas provas da temporada de 1989, Alain liderava por 16 pontos. Naquele momento, a McLaren-Honda essencialmente trabalhava como duas equipes diferentes, que por acaso operavam do mesmo boxe. Novamente, os dois carros alvirrubros estavam na primeira fila, com seus pilotos em um estado provocador, Senna sabia que tinha que vencer, enquanto Prost deixava claro que não facilitaria as coisas.
“Eu disse a equipe e a imprensa, ‘Não há chance alguma de que eu abra passagem para ele’.”
Conversávamos com freqüência, saiba você, sobre a primeira curva, a primeira volta, e Ron sempre dizia que o importante era que não batêssemos um no outro, devíamos pensar na equipe. Bem, no que me dizia respeito, Senna pensava sobre si, e era isso. Por exemplo, na largada do Grande Prêmio da Grã-Bretanha daquele ano, chegando à Copse, se eu não tivesse me movido três ou quatro metros fora do traçado, teríamos nos atingido, e ambas as McLarens teriam abandonado na hora. Esse tipo de coisa aconteceu demais; já era o bastante para mim.”
“Quanto ao acidente entre nós na chicane, sim, eu sei que todos pensam que eu fiz de propósito. O que eu digo é que não abri passagem, e só. Eu não queria terminar a prova daquele jeito – eu liderei desde a largada, e queria vencer.”
“Eu tinha um bom carro; fui muito mal durante a classificação, comparado com Ayrton, e eu me concentrei totalmente na corrida. Durante o aquecimento fui quase um segundo mais rápido do que ele, e na corrida em si estava bem confiante, mesmo quando começou a me alcançar.”
“Não o queria muito perto, claro, mas queria que estivesse perto o bastante para que seus pneus se desgastassem mais rápido; meu plano então era que eu pisasse fundo nas últimas dez voltas. Então ele tentou me ultrapassar – e para mim a maneira como ele fez parecia impossível, porque ele estava muito mais rápido que o normal em uma zona de frenagem.”
“Não podia acreditar que ele tentou naquela volta porque, quando chegamos na chicane, ele estava longe. Quando você olha nos retrovisores, e o cara está 20 metros atrás de você, é impossível julgar, e eu nem imaginei que ele tentava me ultrapassar. Mas ao mesmo tempo eu pensei, ‘Não há chance alguma de eu deixar um espaço, nem de um metro. Sem chance.’ Eu tirei o pé do acelerador, freei – e virei.”
Um ano depois os dois estavam de volta a Suzuka, novamente para decidir o Mundial, e desta vez era Alain que tinha que vencer. Apesar de não estarem mais na mesma equipe, ele e Ayrton não tinham diluído a intensidade de sua briga. Era melhor que Prost, disse Senna, não tentasse fazer a primeira curva à sua frente: ‘Se ele tentar, não vai terminar…’ Na corrida, a 240 km/h, a McLaren foi na traseira da Ferrari.
“Bem, o que se pode dizer daquilo? Depois que eu abandonei conversamos sobre isso, e ele me admitiu – assim como fez para a imprensa – de que fez aquilo de propósito. Ele me explicou porque fez. Ele estava furioso com (o presidente da FIA) Balestre por não concordar em mudar o grid, para que ele pudesse começar na esquerda e não do lado sujo, e ele me disse que decidiu que se eu chegasse à primeira curva na sua frente, me tiraria.”
“O que aconteceu no Japão em 90 é algo que nunca esquecerei, porque não envolvia apenas Ayrton. Algumas pessoas na McLaren, vários dirigentes – e muitos na imprensa – concordaram com o que ele tinha feito, e isso eu não podia aceitar. Sinceramente, quase me aposentei depois daquela corrida.”
“Como eu sempre disse, sabe, ele não queria me derrotar, metaforicamente ele queria me destruir – essa era sua motivação desde o primeiro dia. Mesmo naquela corrida com carros de turismo da Mercedes, lá em 84, eu percebi que ele não estava interessado em derrotar Alan Jones, Keke Rosberg, ou qualquer outro – era eu, apenas eu, por algum motivo.”
No final da carreira de Prost como piloto, a situação nunca mudou. Mas no pódio em Adelaide em 1993, a última corrida de Alain, os dois se abraçaram, e foi como se, agora que Alain já não era um rival, Ayrton não via motivos para hostilidade. Prost ficou surpreso com o gesto.
“Sim, eu fiquei – e também um pouco desapontado, para ser sincero. Isso irá mostrar algo sobre Ayrton. No Japão, na prova anterior, ele venceu, e eu fui segundo. Enquanto caminhávamos do pódio para a coletiva de imprensa, eu lhe disse, ‘Esta pode ser a última corrida em que estamos juntos em uma coletiva de imprensa, e eu acho que devemos mostrar algo agradável às pessoas – talvez um aperto de mãos, ou algo.’ Ele não me respondeu, mas não disse não também, então eu achei que talvez ele tivesse concordado. Fomos à coletiva – e ele nem sequer olhou para mim.”
“De fato, eu até pensei que talvez na Austrália nós pudéssemos trocar de capacetes, os últimos capacetes que usamos em uma prova um contra o outro – mas depois do Japão, eu esqueci disso, porque ele não parecia interessado em nenhum tipo de reconciliação.”
“Fomos então para Adelaide, e terminamos em primeiro e segundo novamente. No caminho para o pódio, ele já começava a conversar um pouco, e ele me disse, ‘O que você vai fazer agora?’ Fiquei muito surpreso! ‘Ainda não sei’, eu disse. ‘Você vai ficar gordo’, disse ele, e sorriu. Então no pódio ele pôs seu braço em minha volta, apertou minha mão, e tudo. Por quê? Porque agora foi sua idéia, e sob suas condições. Ok, de qualquer forma aquilo foi bom. Mas aquele era Ayrton – se fosse sua idéia, certo; caso contrário, esqueça.”
Mais tarde, Senna admitiria para um amigo próximo que somente após a aposentadoria de Prost ele percebeu o quanto de sua motivação vinha de brigar com seu rival. Apenas alguns dias antes da sua morte, em uma filmagem em Ímola para a Elf, ele surpreendeu a todos com uma saudação espontânea: ‘Gostaria de dar as boas vindas ao meu amigo Alain – todos sentimos sua falta…’. Prost ficou comovido com aquilo.
De fato, depois que me aposentei conversamos com certa freqüência ao telefone. Ele me chamou diversas vezes, geralmente para conversar sobre segurança; ele queria me manter envolvido com aquilo, e tínhamos concordado em conversar sobre o assunto em Ímola. Naquele final de semana ele falou, falou, falou, sobre segurança, e parecia mais suave do que antes – para mim, ele mudou completamente em 94. Me parecia muito para baixo de certa forma, sem a mesma força de antes.”
“Tivemos esta conversa na sexta, e o encontrei novamente na manhã do domingo – depois do acidente fatal de Roland Ratzenberger, claro. Eu estava com diversas pessoas no motorhome da Renault. Você sabe como era Ayrton geralmente – ele iria da garagem, direto para seu motorhome, mas naquela manhã eu fiquei muito surpreso, porque ele veio no meio de todas aquelas pessoas, o que ele normalmente não fazia, para chegar até mim. Conversamos, e ele realmente tentou ser simpático e amigável.”
“Eu o vi rapidamente então na garagem. Não queria incomodá-lo, mas sabia que ele queria de ajuda, que ele precisava conversar com alguém. Aquilo era óbvio. Nós iríamos conversar novamente na semana seguinte…”
O funeral de Senna aconteceu em São Paulo, quatro dias depois, e Prost foi um dos muitos pilotos que compareceram. Não foi uma decisão particularmente difícil de tomar, disse ele, exceto por um único motivo.
Sabia que queria ir, mas Ayrton e eu tínhamos uma história de tanto tempo que eu realmente não sabia como o povo brasileiro a enxergava: ficariam eles incomodados se eu fosse, incomodados se eu não fosse, ou o que? No dia seguinte ao acidente, eu estava em Paris, e um amigo de Jean-Luc Lagardère (o presidente da Matra) me ligou. Sua esposa era brasileira, e eu lhe pedi um conselho. ‘Já tenho a passagem’, eu lhe disse, ‘mas o que você acha que devo fazer?’ Ele me disse que deveria ir, que o povo brasileiro iria gostar disso. Eu não queria ser empurrado – eu realmente queria ir – mas ele me convenceu. E eu agora sei que se não tivesse ido, teria me arrependido pelo resto de minha vida.”
“Não houve hostilidade contra mim em São Paulo – muito pelo contrário, por sinal. Ainda tenho contato com a família de Ayrton; no dia seguinte ao funeral, seu pai me convidou para sua fazenda, e conversamos por um bom tempo. E eu vejo sua irmã com freqüência, faço o que posso para ajudar na fundação.”
Ayrton certamente foi o melhor piloto contra quem corri, por uma longa margem. Ele foi, de longe, o piloto mais comprometido que eu já vi. Para ser sincero, eu acho que talvez o melhor piloto de corrida – em termos de realmente aplicar inteligência – foi Niki Lauda, mas no geral Ayrton Senna era o melhor, de longe. Ele foi muito bem sucedido em tudo o que importava para ele, tudo o que ele definiu como metas para si.”
(Prost competiu também contra Nigel Mansell, Nelson Piquet, Michael Schumacher, Gerard Berger, Niki Lauda, Gilles Villeneuve, Didier Pironi, Emerson Fittipaldi, Alan Jones, René Arnoux, Jody Scheckter, Keke Rosberg, Mario Andretti, etc.).
“Na verdade, eu acho que não seria impossível que, com tempo, nós nos tornássemos amigos. Dividimos muitas coisas, afinal de contas, e uma coisa nunca mudou – mesmo quando nosso relacionamento estava no seu pior ponto – houve o grande respeito de um pelo outro como pilotos. Eu não acho que nenhum de nós se importou muito com qualquer outro. E houve ainda as vezes em que nos divertimos juntos, sabe. Nada muito freqüente, mas…”
“Ele era estranho, sabe. Em 1988, me lembro, tínhamos que ir ao Salão de Genebra para a Honda; são apenas 40 quilômetros da minha casa, então o convidei para um almoço antes, e depois iríamos juntos até lá. Ele veio a minha casa – e dormiu por duas horas! Quase não falou nada.”
“Então, depois do almoço, saímos para caminhar, e eu ainda lembro claramente de nossa conversa. Gostava de conversar com ele: às vezes podia ser entediante se prolongava sobre algo, mas geralmente era fascinante. Sim, acho que poderíamos ter ficado amigos eventualmente. Uma vez que já não éramos adversários tudo mudou.”
“Olho para aqueles dias agora e penso, ‘Jesus, o que era aquilo? Por quê passamos por tudo aquilo?’ Às vezes tudo parece um sonho ruim. Talvez pelo fato de geralmente estarmos tão à frente, era inevitável que houvessem problemas entre nós, mas por quê (a relação) se tornou tão venenosa? – por quê precisamos viver aquilo? Eu costumava dizer às pessoas, ‘Você é fã de Ayrton Senna? Bom, tudo bem – mas por favor, não me odeie!’ Foi o mesmo com a imprensa.”
“A pressão era tão grande, tão grande… Se tivéssemos que fazer tudo novamente, acho que diria a Ayrton, ‘ouça, nós somos os melhores, podemos destruir todos os outros!’ Com muita inteligência, poderia ter sido um sonho bom. Mesmo assim, com tudo o que aconteceu, foi uma história fantástica, você não acha? E eu acho, que de certa forma, nós sentimos a falta disso hoje.”
Alain Prost
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Disponível também no site www.jalopnik.com.br.

Acesse também o site do Instituto Ayrton Senna no: www.senna.org.br. Veja o seu conteúdo e seu ideal... e se quiser colabore de alguma forma.


27 fevereiro 2012

CÓDIGO DE HAMURABI / HAMMURABI´S CODE

O Código de Hamurabi (também escrito Hamurábi ou Hammurabi) é um dos mais antigos conjuntos de leis escritas já encontrados, e um dos exemplos mais bem preservados deste tipo de documento da antiga Mesopotâmia. Segundo os cálculos, estima-se que tenha sido elaborado pelo rei Hamurabi por volta de 1700 a.C.. Foi encontrado por uma expedição francesa em 1901 na região da antiga Mesopotamia correspondente a cidade de Susa, atual Irã.
O monólito com o Código de Hamurábi. É um monumento monolítico talhado em rocha de diorito, sobre o qual se dispõem 46 colunas de escrita cuneiforme acádica, com 282 leis em 3600 linhas. A numeração vai até 282, mas a cláusula 13 foi excluída por superstições da época. A peça tem 2,25 m de altura, 1,50 metro de circunferência na parte superior e 1,90 na base.

A sociedade era dividida em três classes, que também pesavam na aplicação do código:

     - Awilum: Homens livres, proprietários de terras, que não dependiam do palácio e do templo;
     - Muskênum: Camada intermediária, funcionários públicos, que tinham certas regalias no uso de terras;
     - Wardum: Escravos, que podiam ser comprados e vendidos até que conseguissem comprar sua liberdade.

Pontos principais do código de Hamurabi:

     - lei de talião (olho por olho, dente por dente);
     - falso testemunho;
     - roubo e receptação;
     - estupro;
     - família;
     - escravos.

Exemplo de uma disposição contida no código:

Art. 25 § 227 - "Se um construtor edificou uma casa para um Awilum, mas não reforçou seu trabalho, e a casa que construiu caiu e causou a morte do dono da casa, esse construtor será morto".

O objetivo deste código era homogeneizar o reino juridicamente e garantir uma cultura comum. No seu epílogo, Hamurabi afirma que elaborou o conjunto de leis "para que o forte não prejudique o mais fraco, a fim de proteger as viúvas e os órfãos" e "para resolver todas as disputas e sanar quaisquer ofensas".

Durante as diferentes invasões da Babilônia, o código foi deslocado para a cidade de Susa (no Irã atual) por volta de 1200 a.C.. Foi nessa cidade que ele foi descoberto, em dezembro de 1901, pela expedição dirigida por Jacques de Morgan. O abade Jean-Vincent Scheil traduziu a totalidade do código após o retorno a Paris, onde hoje ele pode ser admirado no Museu do Louvre, na sala 3 do Departamento de Antiguidades Orientais.

Durante o governo de Hamurabi, no primeiro império babilônico, organizou-se o mais conhecido sistema de leis escritas da antiguidade: O Código de Hamurábi. Outros códigos haviam surgido entre os sumérios - viveram entre 4000 anos a.C. a 1900 a.C. na Mesopotâmia. No entanto, o Código de Hamurabi foi o que chegou até nós de forma mais completa - os sumérios viviam em pequenas comunidades autônomas, o que dificultou o conhecimento desses registros.

Conteúdo

O código de Hamurabi expõe as leis e punições caso essas não sejam respeitadas. O texto legisla sobre matérias muito variadas, da alçada dos nossos códigos comercial, penal e civil. A ênfase é dada ao roubo, agricultura, criação de gado, danos à propriedade, assim como assassinado, morte e injúria. A punição ou pena é diferente para cada classe social. As leis não toleram desculpas ou explicações para erros ou falhas: o código era exposto livremente à vista de todos, de modo que ninguém pudesse alegar ignorância da lei como desculpa. No entanto, poucas pessoas sabiam ler naquela época (com exceção dos escribas).

Os artigos do Código de Hamurabi fixam, assim, as diferentes regras da vida cotidiana, entre outras:

     - a hierarquia da sociedade divide-se em três grupos: os homens livres, os subalternos e os escravos;
     - os preços: os honorários dos médicos variam de acordo com a classe social do enfermo;
     - os salários variam segundo a natureza dos trabalhos realizados;
     - a responsabilidade profissional: um arquiteto que construir uma casa que se desmorone, causando a morte de seus ocupantes, é condenado à morte;
     - o funcionamento judiciário: a justiça é estabelecida pelos tribunais, as decisões devem ser escritas, e é possível apelar ao rei;
     - as penas: a escala das penas é descrita segundo os delitos e crimes cometidos. A lei de talião é a base desta escala.

Durante o período de hegemonia do império babilônico sobre a Mesopotâmia (1800-1500 a.C.) o rei Hamurabi foi responsável por uma das mais importantes contribuições culturais daquele povo: a compilação de um código de leis escrito quando ainda prevalecia a tradição oral, ou seja, em época em que as leis eram transmitidas oralmente de geração em geração ou de forma consuetudinária - costumeira.

Uma inscrição do Código de Hamurábi.

Do código de Hamurabi foram traduzidos 281 artigos a respeito de relações de trabalho, família, propriedade e escravidão. Embora repouse sobre a tradição anterior do  direito sumério, o código é conhecido por ser o primeiro corpo de leis de que se tem notícia fundamentado no princípio da lei de talião, que estabelece a equivalência da punição em relação ao crime. O termo talião é originado do latim e significa tal ou igual, daí a expressão "olho por olho, dente por dente". Também inspira o código o princípio jurídico judicium dei, ou o ordálio, que indica a possibilidade de um julgamento divino. Um exemplo desse princípio está no artigo dois do código: "Se alguém acusar um homem e o acusado mergulhar em um rio e afundar, quem o acusa pode tomar posse de sua casa. Mas se o rio provar que o acusado é inocente e ele escapar ileso, então quem o acusa será executado, e o acusado tomará sua casa".

O código é muitas vezes indicado como o primeiro exemplo do conceito legal de que algumas leis são tão básicas que mesmo um rei não pode modificá-las. Ao escrever as leis na pedra, elas se tornaram imutáveis. Este conceito existe em vários sistemas jurídicos modernos e deu origem à expressão em língua inglesa written in stone (escrito na pedra). No entanto, para alguns investigadores da história, o fato de gravar escritos em pedras não implica propriamente a perpetuação da mensagem e sim na facilidade oferecida pelo autor aos menos letrados de reproduzirem esses textos fiel e rapidamente. No caso da estela de Hamurabi em questão, viajantes de outras regiões, quando em passagem por Susa, tinham a oportunidade de obter cópias para serem lidas por escribas em suas aldeias e para isso normalmente utilizavam o processo similar ao de xilogravura, transcrevendo diretamente da estela para o papel ou papiro, que com o passar do tempo e o uso, por se tratar de material perecível, se perderam, permanecendo apenas essas matrizes de pedra para contar a origem das leis.

Outras coleções de leis incluem os códigos de Ur Nammu, rei de Ur (cerca de 2050 a.C.), o código de Eshnunna (cerca de 1930 a.C.) e o código de Lipit-Ishtar de Isin (cerca 1870 a.C.).

25 fevereiro 2012

NUCLEOSSÍNTESE ESTELAR / STELLAR NUCLEOSYNTHESIS

NUCLEOSSÍNTESE ESTELAR / STELLAR NUCLEOSYNTHESIS

O Sol.

A nucleossíntese estelar é o conjunto de reações nucleares que tem lugar nas estrelas para fabricar elementos mais pesados.

Estes processos começaram a ser entendidos em princípios do século XX quando ficou claro que só as reações nucleares podiam explicar a grande longevidade da fonte de calor e luz do Sol. Aproximadamente 90% da energia produzida pelas estrelas viria das reações de fusão do hidrogênio convertido em hélio. Mais de 6% da energia gerada viria da fusão do hélio em carbono. O restante de fases de combustão apenas contribuiriam de forma apreciável à energia emitida pela estrela ao longo de toda sua vida.

História

Anos 20

Em 1920, Arthur Eddington, baseando-se nas precisas medições dos átomos realizadas por F.W Aston, foi o primeiro a sugerir que as estrelas obtinham sua energia a partir da fusão nuclear do hidrogênio em hélio. Em 1928, George Gamow deduziu o chamado fator de Gamow, uma fórmula mecânico-quântica que dá a probabilidade de encontrar uma temperatura determinada dos núcleos suficientemente próximos como para que possam atravessar a barreira coulombiana. O fator de Gamow foi usado nesta década pelo astrônomo inglês Atkinson e o físico austríaco Houtermans e mais tarde pelo próprio Gamow e por Teller para calcular o rítmo com que as reações nucleares se produziam nas altas temperaturas existentes nos interiores estelares.

Anos 30

Em 1939, em um artigo titulado "Energy Production in Stars", o estadounidense Hans Bethe analisou as diferentes possibilidades para que se desse a fusão do hidrogênio a hélio. Selecionou dos processos que ele criou os que deviam ser a principal fonte de energia das estrelas. O primeiro deles foi as cadeias próton-próton, que são as reações dominantes em estrelas pequenas com massas não muito maiores que a do Sol. O segundo processo foi o ciclo carbono-nitrogênio-oxigênio, o qual foi também tratado independe e simultaneamente pelo alemão Carl Friedrich von Weizsäcker em 1938, este grupo de reações é o mais importante nas estrelas massivas e é igualmente equivalente à fusão de quatro prótons para formar um núcleo de hélio-4.

Hoyle

Estes trabalhos explicaram a geração de energia capaz de manter as estrelas quentes. Eles não explicavam a variação de núcleos mais pesados, entretanto. Mais tarde, foram adicionados importantes detalhes à teoria de Bethe. Esta teoria foi iniciada por Fred Hoyle em 1946 com seu argumento qie uma conjunto de núcleos muito quentes estavam relacionados ao ferro. Hoyle seguiu em 1954 com um grande artigo estabelecendo como estágios avançados de fusão dentro das estrelas sintetizariam elementos entre o carbono e ferro em quantidade.

Artigo B²FH e posteriormente

Rapidamente muitas omissões da teoria de Hoyle foram adicionadas. Por exemplo, iniciando quando somou-se um importante avanço com a publicação de um relevante e celebrado artigo de revisão em 1957, por Burbidge, Fowler e Hoyle (comumente referido como o artigo B²FH. Este trabalho posterior reunia e refinava pesquisas primordiais em um quadro amplo que apresentava confiavelmente a explicação, um marco coerente, para a relativa abundância observada dos elementos. Significativas melhorias foram apresentadas por A. G. W. Cameron e por Donald D. Clayton. Cameron apresentou sua própria abordagem independente (segundo Hoyle) da nucleossíntese. Ele introduziu cálculos dependentes de tempo da evolução de sistemas estelares. Clayton calculou os primeiros modelos dependentes de tempo do processo s, o processo r, a queima de silício em elementos do grupo do ferro, e descobriu cronologias para determinar a idade dos elementos. Este campo inteiro de pesquisas expandiu-se rapidamente nos anos 1970.

Reações importantes

As reações mais importantes na nucleosíntese estelar são:

  • Queima do hidrogênio:
    • A cadeia próton-próton
    • O ciclo CNO
  • Queima do hélio:
    • O processo triplo-alfa
  • Queima de metais:
    • Processo de combustão do carbono
    • Processo de combustão do neônio
    • Processo de combustão do oxigênio
    • Processo de combustão do silício
  • Produção de elementos mais pesados que o ferro:
    • Captura de nêutrons:
      • O processo r
      • O processo s
    • Captura de prótons:
      • O processo p

Queima de metais

O pico do ferro marca o final da vida das estrelas. Como se vê no diagrama o rendimento a cada nova etapa de fusão diminui rapidamente. Chegando ao ferro esse rendimento é negativo e as reações de fusão se detém.

Se ao esgotar-se o hélio no núcleo da estrela, a massa da estrela é suficientemente grande, o núcleo será capaz de comprimir-se e aquecer-se o suficiente para empreender a fase seguinte de fusão do carbono. Haverá, pois, duas novas camadas de fusão, uma de hélio e outra de hidrogênio em cima desta. Tal e como ocorria na transformação em supergigante vermelha, agora a pressão exercida por essas novas camadas fará que a cobertura externa da estrela se expanda outra vez. As massas mínimas para estes processos não estão bem determinadas já que se desconhecem bastante os ritmos de reação, as seções eficazes e os ritmos de expulsão de massa por vento estelar das estrelas mais massivas. O início das reações do carbono se situam indicativamente em um mínimo de 8 massas solares mas poderia produzir-se a menores massas. Se pode assegurar que com essa massa se chega a queimar o carbono mas o mínimo real talvez esteja entre 4 e 8. Pelo que diz respeito aos demais ciclos aqui os dados são todavia mais incertos ainda que se possa afirmar que uma estrela de mais de 12 vezes a massa do Sol deveria passar por todas as fases de combustão possível até chegar ao ferro. A medida que se somam fases de combustão se adicionam mais camadas de fusão formando uma espécie de núcleo com estrutura de cebola. Deveriam produzir-se trocas a cada fase mas a do carbono é a última que dura um tempo significativo pelo que as demais etapas de combustão não modificam significativamente a constituição da estrela porque ocorrem tão rápido que não dá tempo à estrela de adaptar-se a cada nova situação. Assim, a etapa de supergigante vermelha é, realmente, a última transformação significativa, após ela, e em posteriores fases de combustão, a estrela se tornará cada vez mais instável convertendo-se, muito provavelmente, em uma variável antes de seu destino final como objeto compacto.

Combustão do carbono (> 8 MSol)


Terminada a fusão do hélio o núcleo volta a comprimir-se e a elevar sua temperatura. Dos três elementos que majoritariamente compõe o núcleo neste estágio, carbono e oxigênio em 90% mais um pouco de neônio, é o carbono o que tem a temperatura de fusão mais baixa, uns 600 milhões de graus (6·108 K). Ao chegar a esta temperatura e a uma densidade de uns 2×108 kg/m3, os átomos de carbono começam a reagir entre si dando lugar a diversos elementos mais pesados através de uma série de canais de saída distintos. A duração desta etapa será da ordem de umas centenas de anos podendo chegar aos 1000 anos. As reações mais prováveis são as que ocorrem mais posteriormente no diagrama. A do sódio-23 tem uns 56% de ocorrência e a do neônio-20 uns 44%. Os prótons e as partículas alfa emitidas em tais reações serão rapidamente recapturadas pelo carbono, o oxigênio, o neônio e o próprio sódio. Estas reabsorções têm efeitos energéticos significativos mas quanto à nucleosíntesis assim como são as que farão que o sódio não esteja presente entre os elementos residuais da combustão do carbono. O mesmo diz respeito ao oxigênio, que ainda que se forme pouco, se soma ao que já havia sido formado durante o processo triplo alfa. Tudo isto fará que resulte num núcleo de oxigênio-16, neônio-20, magnésio-24 e alguns traços de silício-28. A composição das cinzas desta etapa é fundamentalmente a seguinte:

Frações de massa:

Fotodesintegração do neônio

Terminado o carbono do núcleo central este volta a contrair-se até chegar à temperatura de 1,2·109 K, momento no qual volta a deter-se o colapso durante uns pouos anos, uma década mo máximo. A essas temperaturas os fótons irradiados pelo centro do núcleo são tão energéticos que logram fotodesintegrar o neônio-20. Este processo ainda que seja endotérmico (consome energia) consegue que de seus subprodutos se derive outra reação que sem é exotérmica. O balanço global de ambos processos é positivo e o resultado é que a estrela logra sustentar-se aunda resulte em neônio por fotodesintegração no núcleo.


Como se vê nas reações adjuntas, as cinzas desta fase serão as mesmas que na anterior menos o neônio que haverá consumido. Se incrementará a quantidade de oxigênio e magnésio à vez que seguem criando-se novas camadas de fusão. Agora, a parte do núcleo de combustão de neônio há uma camada de carbono, outra de hélio e uma de hidrogênio. Os ventos solares são já muito intensos e desprendem grandes quantidades do hidrogênio mais externo pouco ligado já à estrela.

Combustão do oxigênio


Finalizada a etapa do neônio, o núcleo da estrela volta a se aquecer e contrair até 1,5 até 2·109 K  a  2×107 g/cm3 temperatura e densidade a partir das quais se alcança a ignição do oxigênio. A reação de fusão nuclear do oxigênio produz diversos canais de saída, uns mais prováveis que outros, do mesmo modo que ocorria na fusão do carbono. A etapa dura uns poucos meses, quiça um ano, e suas cinzas são sobretudo silício-28 acompanhado de silício-30, enxofre-34, cálcio-42 e titânio-46. Muitos destes elementos são subprodutos das reações com prótons, nêutrons ou alfas recapturados. As três reações mais prováveis são as que estão retratadas, resultará enxofre-31 uns 18% das vezes, fósforo-31 uns 61% e silício-28 uns 21%.

Fotodesintegração e combustão do silício

Camadas de combustão em uma estrela agonizante em seus últimos momentos antes do colapso final.

Quando o núcleo alcança os 2,7·109 K e 3·107 g/cm³ se procede a incineração do silício em um conjunto de complexas reações que sustentam por um pouco mais de um dia a estrela. Uma parte do silício-28 recebe o impacto de fótons ultraenergéticos que o rompem em outros isótopos como silício-27 ou magnésio-24. No processo se reemitem grande quantidade de prótons, nêutrons e partículas alfas que em seguida são recapturadas cada vez por átomos mais pesados em uma aproximação assintótica até o pico do ferro. Assim mesmo, o silício também alcança temperaturas de fusão que o levam a formar níquel-56 que posteriormente se degrada até o ferro-56, elemento final a partir do qual a fusão nuclear deixa de ser uma reação rentável e exotérmica, alcançando-se finalmente o equilíbrio estático nuclear (Fe56 + Ni56). Chegados a esse ponto a já muito convulsiva estrela não poderá mais sustentar-se por si mesma.


Fontes de pesquisa:
Wikipedia: www.wikipedia.org
Livro: "A Morte do Sol" de John Gribbin.